por Renato Hermsdorff
Depois de premiado em Berlim e ovacionado em Guadalajara – onde o elenco foi assediado por fãs na porta do hotel –, resta saber como o público brasileiro irá receber o longa-metragem de estreia de Daniel Ribeiro, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, que finalmente chega aos cinemas amanhã, depois de percorrer os dois festivais.
No que depender de Mossoró (RN), diretor e equipe não precisam se preocupar. Segundo o próprio Ribeiro, em coletiva de imprensa na última sexta-feira, uma turma de mossoroenses chegou a criar um grupo no Facebook exigindo a construção de um cinema na cidade só para poder assistir ao filme. “E BH (Belo Horizonte) nos odeia”, brincou sobre o fato de a cidade ter ficado de fora do circuito de pré-estreias.
Brincadeiras à parte, o episódio serve para ilustrar a expectativa de parte do público. Desde que o curta Eu Não Quero Voltar Sozinho, também de Daniel Ribeiro, foi lançado em 2010 e ganhou o mundo via Youtube – hoje soma mais de 3,2 milhões de visualizações –, a espera pela versão longa da história só fez crescer – o filme ocupa a sétima posição entre os mais aguardados pelo público do AdoroCinema, na frente, inclusive de Os Vingadores 2 (ok, o ranking muda constantemente, mas Hoje Eu Quero Voltar Sozinho tem se mantido firme no top 10). Tudo isso, sem a presença de “globais” e com um orçamento total de R$2,65 milhões.
No filme, Leonardo (Guilherme Lobo), um adolescente cego, tenta lidar com a mãe superprotetora ao mesmo tempo em que busca sua independência. Quando Gabriel (Fabio Audi) entra para a turma de dele, na escola, desperta novos sentimentos em Leonardo, que se apaixona pelo novo amigo; ao mesmo tempo, Gabriel acidentalmente interfere na relação do garoto com sua melhor amiga, Giovana (Tess Amorim).
Mantendo a ternura do filme curto, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, não é apenas uma versão alongada do primeiro. Há um aprofundamento do perfil dos personagens originais, a entrada de novos, a inserção de conflitos inéditos. O longa mostra, por exemplo, a chegada de Gabriel à escola, traz a turma que pratica bullying (liderada pelo personagem de Pedro Carvalho), a amiga “atirada” (papel de Isabela Guasco) e revela, pela primeira vez, os pais de Leo (vividos por Eucir de Souza e Lucia Romano) e a avó, numa participação de Selma Egrei. (Leia a crítica aqui).
Na conversa exclusiva que o AdoroCinema teve com o diretor e o elenco principal, Daniel Ribeiro explicou como foi a transposição do curta para longa, falou sobre a ausência (ou diminuição) do preconceito sexual das novas gerações e comentou os prêmios do Festival de Berlim. Guilherme Lobo, Tess Amorim e Fabio Audi defendem seus personagens. Em seu primeiro papel de destaque, Guilherme, aliás, revela como foi o seu processo de pesquisa para viver um cego de nascença. Até o ator de 18 anos entrar na sala onde os jornalistas aguardavam, ninguém acreditava que ele não fosse, de fato, um deficiente visual.