por Lucas Salgado
Em passagem pelo Brasil para uma apresentação sobre séries britânicas no Rio Content Market e para participar de dois eventos para fãs de Sherlock e Doctor Who no Rio de Janeiro e em São Paulo, Mark Gatiss conversou com exclusividade com o AdoroCinema sobre as duas séries, em que trabalha como criador, produtor, roteirista e ator. Tomando uma água de coco e com o visual que não lembra nem um pouco seu Mycroft de Sherlock, em também falou brevemente sobre seu papel na quarta temporada de Game of Thrones, que estreia em abril. Leia o bate papo na íntegra!
Vamos mesmo ter que esperar até 2016 para uma nova temporada de Sherlock?
Bem, eu não sei. Para ser honesto, sempre levou dois anos de uma temporada para a outra. 2010, 2012 e, agora, 2014. Não deveria ser uma surpresa se for 2016, mas certamente gostaríamos de fazer mais rapidamente, se possível.
Sim, e uma qualidade da série é que vocês não apressam nada. Mas para os fãs, o desejo é por mais de Sherlock logo...
Eu sei! E para os autores é o mesmo. Gostaria de fazer logo, mas leva um bom tempo para escrever, Steven Moffat e eu estamos sempre ocupados, e Benedict Cumberbatch e Martin Freeman são grandes estrelas. É difícil. Já era difícil no início, agora é muito difícil.
Claro que você não pode dizer se Moriarty voltará ao não, mas o que podemos esperar da quarta temporada de Sherlock?
Não posso falar muito, obviamente. Sherlock e Watson vão voltar (risos). Já trabalhamos com as próximas duas temporadas em detalhes, mas não posso mesmo revelar nada. Estragaria a surpresa.
Mycroft tem uma participação grande na terceira temporada. Podemos esperar por mais dele na quarta?
Acho que já viram mais do Mycroft do que deveriam. Depende da história que criamos ou adaptamos. Não colocaria mais ele só para eu aparecer. Eu gostaria de ver mais do Lestrade, da Sra. Hudson. O bom de ter um grande elenco de suporte é que você pode trazer outras pessoas para o foco. Quando a história pedir, eu posso voltar.
Como é trabalhar com Benedict e Martin? E como foi a escolha dos protagonistas lá na primeira temporada?
Benedict era nossa única escolha. É uma daquelas histórias estranhas que acontecem de vez em quando, em que encontra a pessoa certa. Eu tinha feito um filme com ele (Garoto Nota 10) e gostado muito dele. Steven e Sue (Vertue) o viram em Desejo e Reparação e todos chegamos à mesma conclusão. O chamamos para alguns testes e não chamamos mais ninguém depois. Escalar o Dr. Watson foi um pouco mais complicado. Nos reunimos com alguns atores, mas quando Martin chegou e eles leram o texto juntos, ficou claro que aquilo ali era a série. É muito bom trabalhar com eles. Também é muito difícil, porque fazemos praticamente três filmes em três meses. Mas eles amam a série e querem continuar fazendo.
Com todo o sucesso da participação da Irene Adler na segunda temporada, existem planos para voltar com a personagem?
É algo complicado, que vale para tudo. Quando uma coisa funciona, há sempre a intenção de voltar com ela rapidamente. É difícil fazer dar certo. E o pior é ficar com a sensação de que não foi tão bom quanto o original. Se encontrássemos a história certa, seria ótimo. Mas ela só aparecia em um dos contos originais. É uma coisa especial.
Como você disse, são três filmes. E devo admitir que o meu "filme" favorito é A Scandal in Belgravia, com Irene...
É o meu favorito também.
Pode falar um pouco da parceria com Steven Moffat?
Somos amigos há mais de 20 anos. Costumávamos ir à várias festas, onde ficávamos bêbados e pressionávamos os executivos da BBC a nos deixarem trazer Doctor Who de volta. Era o nosso hobby. Quando conseguimos isso, começamos a discutir outras coisas que nos interessavam. Pensamos parecido sobre muitas coisas, em especial sobre Sherlock. Fazer sua própria versão da Baker Street é algo que todo fã de Sherlock Holmes sonha. E ainda conseguir muito sucesso com isso é algo além da imaginação.
Vocês foram influenciados por outras versões de Sherlock Holmes?
Sim, por todas elas. Tem coisas interessantes até nas piores adaptações. Tem uma brilhante e muito, muito, muito estranha versão de O Cão dos Baskervilles, com Stewart Granger e William Shatner. É das coisas mais estranhas que já vi. Como na velha Hollywood, eles usam vários cenários de outras produções, mas é um grande entretenimento. Mas aqueles que influenciaram positivamente foram os filmes com Basil Rathbone e Nigel Bruce, que eram nossos favoritos. Estes longas têm uma postura bem divertida diante da história. Não são nem um pouco reverenciais. E também A Vida Íntima de Sherlock Holmes, de Billy Wilder, que é uma comédia assustadoramente sofisticada. Muito, muito engraçada. E muito, muito triste. Em termos de tom, é o mais parecido com a nossa série.
Vemos Sherlock em um relacionamento na terceira temporada, o que foi uma grande surpresa. Como foi trabalhar esta história?
O que queríamos para a terceira temporada era colocar Sherlock em várias situações inesperadas, como fazendo um discurso como padrinho em um casamento. E a coisa mais inesperada que podemos imaginar é ele ter uma namorada. E ele realmente parece apenas ter uma namorada. Mas isso também vem de Arthur Conan Doyle. Na história As Aventuras de Charles Augustus Milverton, ele volta para casa e avisa para Watson que está noivo. Ele fica animado e depois horrorizado ao descobrir que Sherlock só fez isso para entrar na casa. Sempre voltamos à Conan Doyle.
Como você vê o futuro de Sherlock? Quantas temporadas podemos esperar?
Todos queremos seguir em frente. Seria ótimo ver Benedict e Martin interpretando os personagens até os 50 anos, que é a idade que os papéis têm no original. Talvez fique mais difícil fazer três episódios sempre. Pode ser mais fácil fazer especiais.
Mudando para Doctor Who, o que podemos esperar da oitava temporada?
O Doutor estará lá (risos). Bem, também não posso dizer muito. É interessante. Por que damos entrevistas? (perguntou para a assessora em tom bem humorado)
O que pode adiantar do Doutor de Peter Capaldi?
Vi um pouco do Peter Capaldi em ação e ele está maravilhoso. Acho que vai ser muito empolgante para todo mundo, porque ele é um Doutor mais perigoso, mais urgente. Ele tem um lado de loucura.
Por que escolher um Doutor mais velho?
Uma coisa fascinante é que quando eu era uma criança o Doutor era sempre mais velho. E quando Peter Davison foi escalado em 1981, o comentário geral era: “como pode o Doutor ser tão novo?” Agora, o Doutor é geralmente mais jovem e todos perguntam: “como pode ele ser tão velho?” Fiquei muito triste com a saída do Matt Smith. Ele fez um grande trabalho, como David Tennant antes dele, mas Peter tem algo muito interessante a trazer para o papel neste momento. A série já voltou tem oito anos, não é algo novo mais, então chegou a hora de fazer algo mais radical. Acho que ele vai ser fantástico.
Comenta-se a possibilidade de Matt Smith retornar para uma participação especial. É verdade?
Não. O Matt partiu. É o que acontece com Doutores, infelizmente.
Acaba de sair a notícia de que Keeley Hawes entrou para o elenco de Doctor Who como uma nova vilã. Pode falar um pouco sobre isso?
Não fiz o roteiro, então não sei muito. Mas o timing é perfeito, porque a Keeley Hawes está encantando todo mundo com a série Line Of Duty. É ótimo que possamos ter uma atriz tão talentosa.
Você trabalha como produtor, roteirista, ator... No que se sente mais confortável?
Eu gosto de manter essa variedade. Eu dirigi pela primeira vez no ano passado e foi algo que eu amei fazer. A variedade é o tempero da vida. É a água de coco da vida. (risos)
Existe a possibilidade de vermos o Mestre, na nova temporada?
Acho que tudo é possível, mas, com este novo Doutor, acho importante não ficar preso à preferências antigas. Quando eu era pequeno, Tom Baker assumiu como Doutor e tivemos uma mudança completa de monstros. Os Zygons, os Krynoids são fantásticos. É sempre bom ter coisas novas.
Mas ao mesmo tempo, os fãs ficam muito empolgados com a possibilidade de rever personagens antigos...
É claro, e nós também. É o que amamos. Mas temos que ter coisas novas se quisermos que as pessoas continuem nostálgicas após 20 anos.
Para terminar, pode falar um pouco sobre seu personagem na quarta temporada de Game of Thrones?
Claro! Eu interpreto Tycho Nestoris, o líder do Banco de Ferro de Braavos. É só o que posso dizer. Mas pelo menos posso dizer isso. (risos)
É uma participação única ou pode voltar?
Eu não sei. Acho que o personagem está nos livros seguintes. Eu pesquisei e sei que não sou morto.
O que é uma vantagem naquela série...
Sim, tenho muita sorte, não? Todo mundo é morto ali. Eu tenho a esperança de retornar.