por João Vitor Figueira
Em entrevista concedida na manhã em que o O Lobo de Wall Street recebeu cinco indicações ao Oscar 2014, o ator Leonardo DiCaprio, protagonista e produtor do longa, chamou a obra de "filme punk". A analogia caiu como uma luva para a produção, que ganhou status de filme controverso graças às diversas cenas que envolvem sexo e drogas.
Para não receber a mesma classificação indicativa que filmes pornográficos, o diretor Martin Scorsese chegou a cortar algumas cenas mais fortes, mas isso não foi o suficiente para evitar que o longa fosse banido e censurado em alguns países da Ásia.
O filme foi banido dos cinemas da Malásia e do Nepal. Na Índia, o censores cortaram as seguites cenas: uma orgia gay, uma em que o personagem de Jonah Hill se masturba em público, a cena de abertura onde DiCaprio inala cocaína na bunda de uma mulher e um diálogo em que algém diz que "todas as freiras são lésbicas", devido a uma lei que protege as religiões de comentários considerados desrespeitosos. No Líbano, as únicas cenas cortadas foram as que mostravam o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo. Nos Emirados Árabes Unidos, o filme que tem três horas de duração teve 45 minutos cortados.
O Lobo de Wall Street já havia chamado a atenção por quebrar o recorde de menções ao termo "fuck" (cujo palavrão correspondente em português também começa com a letra F), citado 569 vezes ao longo do filme (aproximadamente uma vez a cada 20 segundos).
Christian Mercuri, presidente da Red Granite Pictures, empresa que finaciou e produziu O Lobo de Wall Street, afirmou em entrevista ao site The Hollywood Reporter que imaginava que algumas das imagens seriam apontadas como impróprias em algumas culturas, mas elogiou o trabalho de Scorsese. "Algumas cenas do filme dificultam sua comercialização em alguns territórios onde há censura. Isso certamente nos preocupa... É um filme espetacular, todas as suas três horas. É uma vergonha que alguns países o proíbam", declarou Mercuri.
Em The Wolf of Wall Street (título original), o cultuado cineasta Martin Scorsese levou para as telas de cinema a história real de excessos, corrupção e poder que marcaram a vida do corretor de títulos da bolsa de valores Jordan Belfort, vivido por DiCaprio.
Politicamente incorreto
Engana-se quem pensa que o filme foi capaz de chocar apenas o público asiático. O Lobo de Wall Street também recebeu críticas nos Estados Unidos, onde foi acusado de "glamorizar psicopatia", pela filha de um dos corretores que foi sócio de Jordan Belfort na vida real. Além disso, a produção também foi desaprovada por instituições que defendem os direitos de pessoas com paralisia cerebral por conta do uso da expressão "retardado" e por uma cena em que Belfort diz que os efeitos de uma droga são semelhantes à debilidade mental. A Peta (sigla em inglês usada para nomear a organização Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais) criticou o uso de um chipanzé no filme.
Leonardo DiCaprio, Jonah Hill e Martin Scorsese já se manifestaram publicamente em defesa do filme. Para DiCaprio, quem acha que o longa glorifica o excesso "não entendeu o filme". Hill pontuou que "não concorda com nada que os personagens fazem". Para o diretor, seu papel não é julgar ninguém: "Que sejam os outros os que falem da situação de nosso sistema jurídico a partir do que mostro. Dos nossos valores como sociedade. Não sou juiz, só faço cinema. Na verdade, apenas tive contato com Jordan Belfort durante a filmagem [...] É a história de uma loucura, da obscena mentalidade de um negócio podre, e assim quis retratá-lo. Sem amarras, com toda a liberdade de que necessitava para deixar clara a impunidade com a qual meus personagens atuavam".