por Francisco Russo
Ao menos até o momento, Tatuagem foi o filme que mais movimentou Gramado. Um dos destaques do longa-metragem é o elenco, que impressiona pela composição dos personagens e a naturalidade em cena, especialmente nos momentos mais íntimos. O AdoroCinema reuniu os três atores principais do filme, Irandhir Santos (foto, direita), Jesuita Barbosa (foto, esquerda) e Rodrigo Garcia, para uma conversa sobre o longa-metragem e suas carreiras. Confira abaixo o resultado desta entrevista exclusiva.
COMO ENTROU NO FILME?
"Hilton (Lacerda) me viu há cinco anos e meio atrás em um bar e aí nos conhecemos", contou Rodrigo Garcia, intérprete de Paulete. "Depois de um mês a gente se encontrou de novo e ele já veio dizendo que me queria no filme que estava escrevendo. Acho que ele bateu o olho e viu o personagem em mim. O tempo passou, fiz uma leitura dois anos depois e aí conheci o personagem. Até então só tinha lido o release, que falava de Clécio e Fininha, então não sabia qual dos dois iria interpretar. Foi na leitura que conheci Paulete e adorei! Desde então o Hilton me mantinha informado, até que a produção me chamou para fazer um teste. Foi aí que achei que perderia o papel, mas ele encasquetou comigo e no final deu tudo certo."
Jesuíta Barbosa, que dá vida a Fininha, revelou que fez um teste para o filme ainda na faculdade, em Fortaleza. "O diretor assistente fez um teste lá e deu certo, aí viajei para São Paulo para ler o roteiro. Quando fui para Olinda já sabia que iria fazer o filme, fiquei cerca de um mês fazendo testes juntamente com o Ariclenes (Barroso) para saber quem faria o Fininha e o soldado Gusmão. Foi quando peguei o papel."
Se Jesuíta e Rodrigo passaram por testes para conquistar seus papéis no filme, a entrada de Irandhir Santos foi bem mais tranquila. "Desde Febre do Rato já havia sido convidado, então fiquei só no aguardo. Quando o Hilton tocou o projeto adiante aí ele me apresentou o personagem. O engraçado é que o Hilton disse que pensava no meu corpo quando escrevia sobre o Clécio."
NATURALIDADE ENTRE OS ATORES
Uma pergunta inevitável ao trio era como foi o trabalho para que atingisse o grau de naturalidade visto em cena. "O essencial foi ter a junção destas pessoas durante o período dos ensaios. Ter este tipo de oportunidade para a gente foi fundamental. Por exemplo, os meninos moraram juntos em uma casa. Tudo foi feito num bairro antigo de Olinda, onde as coisas eram próximas, então quem não estava na mesma casa estava logo na casa ao lado. Então era a respiração de Tatuagem o tempo todo. Fora isso, era a inserção diária de informações que nos alimentavam, o que era muito instigante. Como não haviam muitos recursos, a gente tinha que inventar uma cena com o que tínhamos. Então casaco virava guarda-chuva, peruca, tecido..."
"Era tudo num casarão lá em Olinda. A produção em cima, o figurino embaixo e a gente ensaiando do lado", complementou Rodrigo Garcia.
O CADERNO DE IRANDHIR
Entrevistado pelo AdoroCinema em 2010, por ocasião do lançamento comercial de Olhos Azuis, Irandhir Santos disse na época que manteve um caderno para seu personagem, no qual recheava de anotações sobre o estado emocional dele ao longo do filme. Perguntamos ao ator se ele também manteve um caderno durante as filmagens de Tatuagem.
"Teve também um caderno para Tatuagem. Na verdade ele já existia. Em 2007 fui fazer um espetáculo com o grupo Coletivo Angu, que tinha uma temática gay. Entrei só na primeira e na segunda semana, mas surgiu um convite para uma minissérie especial e o próprio grupo me apoiou para que fizesse o projeto. Só que já tinha feito o caderno que imaginava para aquela peça, então resolvi guardá-lo. Não tinha nada escrito, só estava construído da maneira que imaginava. Quando Hilton veio com esta história veio o link. Também cheio de anotações, colagens, desenhos... Para mim é a concretização dos sentimentos do personagem, é algo que faço para que tenha acesso às histórias que vou viver."
A NOVA BOLA DA VEZ DO CINEMA NACIONAL
Um dos destaques de Tatuagem, Jesuíta Barbosa foi bastante elogiado por Wagner Moura em sua passagem por Gramado, com quem atuou nos ainda inéditos Praia do Futuro e Serra Pelada. Além disto, o ator está no elenco de Cine Holliúdy, sucesso nos cinemas de Fortaleza. Perguntamos ao ator como é ser a revelação do momento no cinema brasileiro.
"Tento lidar naturalmente. Às vezes fico meio assustado, pois trabalho com muita gente interessante e que admiro. Tento deixar as coisas fluírem."
EXPECTATIVA
Perguntamos aos atores qual era a expectativa deles em relação ao filme, tanto em relação a premiações no festival quanto ao lançamento comercial. "Acho que o filme é delicado para o circuito comercial, não sei se ele será bem recebido", disse Rodrigo Garcia. "A gente sempre deseja que muita gente veja o filme. Se as pessoas ficarem até o fim, verão que é muito bonito. O problema é ficar até o fim, porque acho que vai ter muita gente careta que não vai aguentar e sairá da sala."
"O poder do filme é incrível, porque antes mesmo dele ser exibido já estava criando uma expectativa. Foi curioso perceber na coletiva que muita gente esperava escândalo, mas o incômodo veio de outro âmbito, do afeto entre dois homens. O que incomoda talvez seja isso, que está por baixo", comentou Irandhir Santos.
"Na verdade este é um filme igual a todos os outros que têm cenas de sexo entre homem e mulher, só que neste caso é homem com homem", disse Rodrigo. "Assistindo à cena de sexo, que ainda não tinha visto, existe algo muito bacana que é o tempo do sexo. É difícil de ver, normalmente há um certo pudor com este tipo de cena. Há um respeito por aquele momento, que é belo", complementou Irandhir.
LEIA MAIS:
Tatuagem surpreende com retrato teatral gay durante a ditadura
Wagner Moura descarta Tropa de Elite 3
Leandra Leal, João Miguel e Júlio Andrade brilham em Éden
Wagner Moura dedica a premiação aos filhos de Amarildo
Bruno Barreto defende indicação ao Oscar para Glória Pires
Glória Pires é aplaudida de pé em homenagem na abertura do festival