por Francisco Russo
Ícone do cinema italiano, Franco Nero ficou conhecido entre os cinéfilos graças a Django, onde interpreta o personagem-título. O ator, que já rodou longa-metragens nos mais diversos países, estreou no cinema brasileiro com a mais recente produção da diretora Lucia Murat, A Memória que Me Contam, que chega hoje ao circuito nacional. No filme ele dá vida a Paolo, um italiano que vive no Brasil e precisa lidar com a inesperada prisão por ter participado de um atentado terrorista em seu país natal há décadas atrás.
O AdoroCinema conversou com Franco Nero via telefone, ele em Roma e nós no Rio de Janeiro. No bate-papo o ator comentou sobre a experiência em rodar um filme brasileiro, o trabalho necessário para falar português em cena e ainda deu uma palinha sobre como foi participar de Django Livre, onde contracenou ao lado do novo intérprete do personagem, Jamie Foxx. Boa leitura!
AdoroCinema: Como foi o seu contato com Lucia Murat para que pudesse atuar em A Memória Que Me Contam?
Franco Nero: Sempre quis trabalhar no Brasil. Há cerca de 20 anos atrás estive perto de fazer um filme no país, Os Garimpeiros, mas ele foi cancelado de última hora. Quando Lucia me enviou o roteiro eu gostei da história e do personagem que iria interpretar, pois era muito bem desenvolvido.
AC: Você gravou cenas tanto em Paulínia quanto no Rio de Janeiro. Como foi a experiência de rodar um filme no Brasil?
Franco: Foi uma experiência maravilhosa! A equipe era muito profissional, os atores eram fantásticos e Lucia é uma diretora muito talentosa, logo nos tornamos amigos. Foram dias ótimos no Rio de Janeiro!
AC: Conversei com Lucia Murat quando o filme foi exibido no Festival de Brasília e ela contou que você não sabia português antes das filmagens. Como foi aprender a língua em tão pouco tempo?
Franco: Não foi nem um pouco fácil! Falo espanhol muito bem, mas português é uma língua completamente diferente. Tinha uma amiga aqui em Roma, Natália, que é brasileira e me ajudou com as falas em português. Procurei decorar os diálogos das minhas cenas e correu tudo bem.
AC: A trama do filme é baseada em uma amiga da diretora, Vera Sílvia Magalhães, que faleceu poucos anos antes das filmagens. Você conhecia a história dela?
Franco: Não. Quando aceitei o filme me contaram quem ela tinha sido, uma pessoa incrível que era também uma guerreira contra a ditadura no Brasil. Era uma figura importante na luta contra a ditadura e que esteve doente durante boa parte de sua vida, tendo morrido três anos antes das filmagens. Lucia a conhecia e este foi o motivo pelo qual ela queria fazer este filme. Para ela era algo muito importante, porque a própria Lucia também lutou contra a ditadura. Foi um momento chave para o Brasil. Ela me contou sobre as pessoas que foram torturadas e que não havia sido uma situação fácil.
AC: Você foi homenageado por Tarantino em seu filme mais recente, Django Livre. Como foi esta participação?
Franco: Esta é uma longa história. A gente se conheceu cerca de 20 anos atrás, quando estava na Espanha rodando um filme com Penélope Cruz (Talk to Angels). Ela tinha ido ao Festival de San Sebastián e lá encontrou um jovem diretor que ficou louco quando soube que ela estava rodando um filme comigo. Ele disse que eu era um de seus ídolos e que queria conversar comigo há anos, mas não conseguimos nos encontrar.
Um dia, quando estava divulgando Bastardos Inglórios em Roma, Tarantino disse que não deixaria a cidade sem antes falar comigo. Foi quando enfim nos encontramos e ele me contou toda sua história, que quando jovem trabalhou numa videolocadora e teve a chance de assistir todos os meus filmes. Ele lembrava até mesmo as falas dos meus personagens! Foi ali que me convidou a fazer uma participação especial em seu próximo filme e é claro que aceitei.
Quando anunciou que faria uma nova versão do meu filme, Django, Tarantino veio falar comigo outra vez. Não estava muito certo na época, mas ele insistiu tanto que aceitei. As filmagens foram muito divertidas e com pessoas muito talentosas. Inicialmente minha participação seria bem maior, tinha uma longa cena com Leonardo DiCaprio que foi cortada porque o filme estava longo demais. O primeiro corte tinha cinco horas de duração, então meu personagem foi cortado. Mas tudo bem, isso acontece.
AC: E em relação ao futuro... quais são seus próximos trabalhos em cinema?
Franco: Irei agora rodar um filme na Croácia feito por uma diretora, Jasmila Zbanic, que ganhou o Festival de Berlim com Em Segredo. Trabalhar com diretoras parece ser meu destino, porque além de trabalhar com Lucia fui rodar em um filme em Portugal dirigido por Fanny Ardant e ao lado de Gérard Depardieu.
Quando estas filmagens chegarem ao fim irei a Los Angeles para fazer um filme sobre Rudolph Valentino, que não terá diálogos. Muitos anos atrás interpretei o próprio Valentino, agora serei a pessoa que o ensinará a lidar com as mulheres. Depois pretendo dirigir o meu filme, que se passará nos Estados Unidos. Tenho muitos projetos em vista, felizmente.