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    Entrevista exclusiva - Letícia Colin fala sobre Bonitinha, mas Ordinária

    Atriz é a nova intérprete do polêmico papel vivido por Lucélia Santos no filme lançado em 1981.

    por Francisco Russo

    Aos 18 anos, Letícia Colin assumiu um papel emblemático na carreira da hoje veterana Lucélia Santos e aceitou o desafio de ser a nova personagem-título de Bonitinha, mas Ordinária. Uma personagem difícil devido às questões levantadas pelo autor Nelson Rodrigues e também pelas próprias cenas de nudez necessárias à história. Cinco anos depois, o longa-metragem foi exibido pela primeira vez no Cine PE 2013. Um dia após a exibição, Letícia concedeu uma entrevista exclusiva ao AdoroCinema, na qual falou sobre as dificuldades em torno do papel.

    AdoroCinema: Estive na coletiva de anúncio do início das filmagens de Bonitinha, mas Ordinária no Rio de Janeiro, há cinco anos atrás, e lembro que todos estavam muito eufóricos com o projeto. Na época havia um foco muito grande em você, porque era seu primeiro trabalho no cinema e você vinha de Malhação. Até pelo peso da personagem, imagino o quão difícil tenha sido topar este trabalho. Como foi esta decisão de fazer o filme e o que te atraiu na personagem?

    Letícia Colin: Fiquei louca pela personagem. Tive o primeiro contato com a obra quando tinha 14 ou 15 anos e, quando soube do teste, sabia que era um personagem para mim. Precisava passar por isso. Quando a gente é mais novo tem uma coisa mais intensa, mais suicida, e eu era mais desordenada e impulsiva. Queria também me testar como atriz, sou muito de me jogar no fogo. Além disto, queria muito fazer cinema também. Então veio muito desta inquietação de ver qual era, queria uma oportunidade de fazer coisas mais difíceis porque sentia que na televisão fazia papéis muito parecidos. Sentia que no cinema haveria uma oportunidade para mim.

    AC: O Moacyr Góes comentou que você era muito inexperiente na época, que ia fazendo e aprendendo. Como foi sua relação com o elenco, especialmente com o João Miguel e o Leon Goes, que atuam bastante com você?

    Letícia: Fui muito acolhida pelo João, ele é uma pessoa super generosa. Ele me trazia muito para a cena. No início tinha medo da câmera, que é enorme e fica perto do ator, e ele me ajudava nisso. Já o Leon fez a preparação do elenco junto com o Moacyr, me ajudou muito trazendo exercícios de teatro e provocando estímulos para acessar as emoções.

    AC: O Diler Trindade contou que você fez questão de ir aos sets de filmagens todos os dias, mesmo naqueles em que não tinha alguma cena agendada. Você realmente embarcou no projeto, não?

    Letícia: Como era algo novo para mim, queria me sentir integrada. Além disto, achava muito estranho esta coisa de cinema de você só ir no dia da sua diária. E é preciso fazer isto, porque o set não comporta o elenco todo e nem faz sentido ser assim. O Moacyr me convidava muito para assistir e eu aceitava, até porque gostava de ver o João, o Leon, o Gracindo... Então toda vez que podia eu ia.

    AC: Na coletiva você comentou que hoje não faria o filme. Você acha que foi um risco muito grande se expor desta forma, aos 18 anos?

    Letícia: Foi arriscado e corajoso, mas foi também o risco, pois poderia ter feito mal. Meu medo era que fosse uma catástrofe, que o Moacyr dissesse que tinha escolhido a menina errada. Hoje gostaria de fazer outro tipo de personagem, pois o que tinha de dar para a Maria Cecília foi dado naquele momento. A minha energia, minhas dúvidas, inquietações, a descoberta da minha sexualidade... Ela cabia muito ali, naquele ambiente. Não gostaria de refazer porque já foi feito. Para mim é também muito bom porque é um ciclo que se fecha com o lançamento do filme, para que possa me dedicar a outras coisas como atriz. Além disso, foi bom este distanciamento. Durante um tempo eu ia tensa para as entrevistas porque sabia que iriam falar na questão da nudez, agora tudo bem. Estou mais madura, já não é mais um tabu. Ainda mais para menina, criação feminina é mais complicada.

    AC: As pessoas assistirão o filme e será inevitável que comentem a cena da curra. Como você lida com este fato que pode acontecer das pessoas valorizarem mais as cenas em que você aparece nua, pelo lado do fetiche, do que o filme como um todo?

    Letícia: Acho que isto não irá acontecer, pela escolha da edição. O filme foi muito mexido em relação a isso. Há uma coisa boa do Nelson que ele fica tanto tempo falando sobre isso que dá uma acomodada. Além disto não há só a minha cena, mas também a da Leandra (Leal) nos Correios e a das meninas na festa. Os trabalhos estão tão bons que acredito que há outras coisas que chamam a atenção igualmente. Hoje acredito realmente nisto.

    AC: O filme demorou muito para estrear e houve toda uma polêmica em torno do vazamento das suas cenas de nudez na internet. Não só pela sua idade, mas pela situação como um todo, deve ter sido algo complicado de lidar.

    Letícia: Foi uma situação terrível, isto não é bom em nenhuma circunstância. Até porque o filme sequer tinha sido lançado. É muito chato, mas é uma questão digital da atualidade. Minha geração tem muito desta coisa da reprodutibilidade irrefreada, você vai tirar uma foto e já tira logo dez. Acho que estamos aprendendo a lidar com isso ainda. Não aconteceu só comigo, mas também com atrizes em Hollywood, a Carolina (Dieckmann)... É do nosso momento, vamos ter que lidar com isto também. Tenho um posicionamento que, quando acontece algo assim, eu não vou ver. Não importa se vazou ou não, até porque já passei por isso. Mas depois tudo se resolveu e passou.

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