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    Cine PE: Você tem orgulho de ser brasileiro?

    O jornalista Adalberto Piotto apresentou no festival seu primeiro filme como diretor: o documentário Orgulho de Ser Brasileiro.

    por Francisco Russo

    Foto: Daniela Nader/Divulgação

    Orgulho de Ser Brasileiro, o filme, nasceu a partir de um incômodo pessoal do jornalista Adalberto Piotto. Com 21 anos na profissão e querendo compreender melhor o que é este sentimento que surge ora patriota ora desprezado, Piotto decidiu investigar mais a fundo o tema. Selecionou 30 brasileiros, dos mais diversos ramos, e os convidou para uma conversa franca. Dezesseis deles toparam e deram depoimentos para o filme. Mais do que esclarecer, Piotto desejava incitar o debate sobre o tema. Ou, como o próprio diz em off logo na abertura do longa-metragem, "está na hora de decidirmos quem queremos ser... e sem querer ser esperto".

    Exibido pela primeira vez na segunda noite do Cine PE 2013, Orgulho de Ser Brasileiro dividiu opiniões - como o próprio diretor já esperava. Não apenas pelas questões levantadas, às vezes passando por clichês como a hospitalidade do povo e as belezas naturais, mas especialmente pelo formato adotado. Afinal de contas, os 16 entrevistados fazem parte da elite intelectual do país. Mais ainda, dois deles são políticos - o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a ex-ministra Marina Silva -, enquanto que o atual governo não tem algum representante em cena. Estas e outras questões foram abordadas pelo diretor em debate realizado na manhã deste domingo, 28 de abril, na qual o AdoroCinema esteve presente.

    COMO NASCEU O FILME

    "Orgulho de Ser Brasileiro nasceu a partir da observação de certos comportamentos da sociedade brasileira. A mesma pessoa que diz que sente orgulho do país no dia seguinte já estava reclamando dele, esta instabilidade me incomodava", explicou o diretor. "Sou jornalista de formação, mas não vi no jornalismo a liberdade que teria para abordar o tema como o cinema me deu. O filme ficou pronto em menos de um ano, até por uma certa deadline jornalística que tinha. Não podia fazer um filme que levasse três ou quatro anos, porque queria que esta discussão começasse amanhã. Foi corrido, mas isto não trouxe qualquer problema para o filme."

    HONESTIDADE INTELECTUAL

    "Queria discutir o assunto de verdade, com honestidade. Você só consegue isto com gente de verdade, disposta a falar de verdade. Ou seja, precisava de gente comprometida com o que chamo de honestidade intelectual, que falasse o que realmente pensa independente do que as pessoas vão falar depois. E consegui isto. O nível de honestidade intelectual que tenho ali é muito acima do que a mídia brasileira geralmente dispõe", comentou o diretor Adalberto Piotto. "Como disse no início do filme, agora que a gente resolveu ser gente grande no mundo acabou o recreio, não dá mais para enrolar. Temos que encarar que agora a sociedade brasileira é complexa, porque crescemos e evoluímos."

    Foto: Daniela Nader/Divulgação

    FORMATO PRÉ-DEFINIDO

    Antes mesmo de realizar as entrevistas, o diretor já havia definido algumas regras de funcionamento. A primeira delas: o convite seria feito de forma institucional, através das assessorias de cada entrevistado, sem a utilização do famoso Q.I. (quem indica). Tudo para que todos tivessem a mesma oportunidade e pudessem se manifestar livremente se desejavam ou não participar do documentário.

    Segunda regra: o entrevistado teria a chance de escolher o local onde gostaria de gravar seu depoimento. A intenção era deixá-lo à vontade, sem pressões que impedissem a realização de uma conversa honesta sobre o tema. Caso não indicasse uma preferência, a produção indicava dois ou três locais onde a filmagem poderia ser feita.

    Terceira regra: todos os entrevistados seriam incluídos no filme, independente do que fosse dito.

    Quarta regra: os convidados seriam pessoas de notório conhecimento que, em algum momento de suas vidas, deram a cara a tapa para defender publicamente uma proposta controversa.

    HINO NACIONAL

    O hino nacional abre o longa-metragem, na voz da cantora Badi Assad (imagem abaixo), e volta e meia retorna, em pequenos trechos. "Gravar o hino nacional no Teatro Brasil tem uma mensagem subliminar poderosa", comentou Piotto. "Foi a última coisa que gravamos, mas ficou exatamente do jeito que esperava. O teatro deu a imensidão do vazio e a beleza que é o hino nacional, ao mesmo tempo do vazio que significa o hino nacional na cabeça do brasileiro hoje."

    QUEM NÃO ACEITOU O CONVITE

    Inicialmente Piotto não quis revelar quem declinou do convite para participar do documentário, mas ao longo da conversa alguns nomes vieram à tona: Gilberto Gil, Pelé, Dilma Roussef e Lula. Entretanto, o diretor ressaltou que nenhum deles disse que não queria falar sobre o tema, apenas que não podia gravar devido a questões de agenda ou problemas particulares.

    CONTRAPARTIDA SOCIAL

    Como a proposta do filme é que o tema seja visto e discutido, o diretor resolveu bancar do próprio bolso a produção de três mil cópias do filme, que serão distribuídas por sua equipe em escolas espalhadas pelo país. Desta forma os professores terão a chance de exibi-lo aos alunos e, a partir dele, iniciar discussões sobre o tema. Ainda não há uma data marcada para seu lançamento nos cinemas, mas a intenção do diretor é que a estreia aconteça em junho deste ano.

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