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    Robert Duvall fala sobre Jack Reacher - O Último Tiro em entrevista exclusiva

    Ator vencedor do Oscar fala sobre a carreira e como foi trabalhar na nova ação protagonizada por Tom Cruise.

    por Lucas Salgado

    Jack Reacher - O Último Tiro chegou aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira, 11 de janeiro, trazendo Tom Cruise como um sujeito intenso e violento. O veterano Robert Duvall também integra o elenco, retomando a parceria com Cruise mais de 20 anos depois de Dias de Trovão

    Duvall concedeu uma entrevista exclusiva que foi cedida ao AdoroCinema pela Paramount Pictures e você confere a íntegra do bate papo logo abaixo.

    Diga-me, como este projeto surgiu para você?

    Bem, ele surgiu no último minuto, há um ano. Eu ia ficar sem trabalhar por algum tempo mas, então, Tom Cruise disse que me queria e, como havia trabalhado com ele no passado e havia gostado e o respeitava como ator, comecei a considerar a possibilidade mesmo que, a princípio, não tinha certeza se poderia fazer o filme. Disse que iria pensar mas eles logo voltaram e me perguntaram novamente. E desta vez eu disse, 'Ok, aceito. É isso. Porque não?'. Foi uma coisa tipo de última hora. Eles filmaram em Pittsburgh e minha esposa e eu fomos lá cinco vezes para as filmagens. Dirigimos cinco horas em nosso carro cada uma das vezes desde a Virgínia onde moramos, mas não estou reclamando porque foram viagens bastante agradáveis.

    Você trabalhou anteriormente com Tom Cruise em Dias de Trovão (foto), não foi?

    Sim. Trabalhei. Inacreditavelmente, 20 anos se passaram desde então.

    E vocês mantiveram contato?

    Não, não muito. Somente de forma indireta. Mas sempre que eu o encontrei foi realmente legal porque podíamos sempre continuar de onde havíamos parado. Não mantenho muito contato com outros atores, além de, por exemplo James Caan, que ainda é um bom e velho amigo. Mas, sobretudo, não me socializo com outras pessoas do showbiz.

    Então ele contatou você diretamente sobre Jack Reacher – O Último Tiro?

    Não, o contato foi através do pessoal da seleção de elenco e, a princípio, não tinha certeza de que poderia fazer o filme. Não estava na minha melhor forma. Estava um pouco acima do peso. Na verdade, não imaginava o quanto até que me vi no filme. Graças a Deus perdi um pouco de peso. Mas foi Tom que pediu minha participação e depois conversei tanto com o diretor quanto com Tom e fomos em frente e fizemos o filme. Não tive a chance de ler os livros, mas acreditei que, se Tom estava envolvido, só podia ser coisa boa. E não me decepcionei.

    Você se encontrou com Lee Child?

    Não, talvez ele estivesse por lá, mas infelizmente, não me encontrei com ele.

    Seu personagem, Cash, é crucial para o filme, não é?

    Acho que sim, porque ele ajuda Jack Reacher a detectar quem é o verdadeiro assassino. Ele também tem um papel muito importante no clímax do filme porque ele ajuda Jack Reacher na cena do intenso tiroteio, que foi muito divertida de fazer.

    Como é trabalhar com Tom? Ele mudou ao longo dos anos?

    Não, ele continua como sempre foi. Ele está mais velho, eu estou mais velho, mas isto não importou porque éramos essencialmente a mesma coisa… dois atores em uma cena, ambos tentando fazê-la da melhor forma possível. Algumas coisas nunca mudam. Também, me parece que desde a época em que ele era um dos jovens atores, ele se destacou naquela multidão. Ele era o mais animado e o mais acessível de todos os atores. Basicamente, é daí que ele surgiu e acho que ele manteve isso através dos anos.

    Então você sempre o respeitou como ator?

    Bastante. Algumas vezes ouço as pessoas dizerem, "Oh Tom Cruise interpreta ele mesmo em todos os papéis!" Mas, até um certo ponto, todos fazemos isso e também não é fácil ser natural e ficar à vontade e nem ser você mesmo na frente das câmeras. Você também pode observar seu trabalho ao longo dos anos e ver que ele fez diversas interpretações realmente fantásticas em vários filmes. Se relembrarmos Rain Man, ele mostrou completamente sua habilidade juntamente com Dustin Hoffman e foi excelente e mostrou um lado seu completamente diferente em Magnólia. Na minha opinião, ele sempre foi um excelente ator e, quando você está em cena com ele, você está completamente consciente disso, porque, quer você esteja sentado ou em pé com ele, ele está absolutamente lá, junto com você todo o tempo, o que é exatamente como deveria ser.

    Ele impressiona bastante quando se trata de realizar também suas próprias cenas perigosas, não é?

    Sim, extremamente! Quero dizer, o cara subiu no prédio mais alto do mundo em Missão Impossível - Protocolo Fantasma e em Jack Reacher - O Último Tiro ele fez cenas perigosas no helicóptero – incluindo uma volta de 360 graus – que até mesmo os pilotos no Afeganistão achariam desafiantes. A cena de perseguição também tinha o próprio Tom atrás do volante. Você olha e diz, este cara é realmente uma força da natureza!

    Você viu o filme pronto?

    Sim, acho que é um filme de ação realmente muito bom que manterá você em suspense.

    Atualmente, o que consegue fazer você deixar sua fazenda em Virgínia e voltar para a frente das câmeras?

    Bem, gosto de fazer filmes que me interessam e que sejam diferentes dos filmes habituais. Então, por exemplo, se Billy Bob Thornton liga eu sempre ouço o que ele tem a dizer porque acho que ele tem um talento extraordinário. Na verdade, gosto de pensar nele como "O Orson Welles Caipira". Fizemos um filme juntos recentemente chamado Jayne Mansfield's Car que foi interessante porque todo seu conceito de escrever é incrível e completamente diferente. Recentemente também, trabalhei no Texas em um filme chamado A Night in Old Mexico, escrito por William D. Wittliff, que também escreveu a minissérie para TV Os Pistoleiros do Oeste (foto). Adorei meu papel no filme e acho que minha parte neste filme pode simplesmente ser a minha favorita de todos os tempos. É um roteiro simplesmente maravilhoso e o rapaz que interpretou meu neto é Jeremy Irvine, o jovem e brilhante ator inglês que participou de Cavalo de Guerra. O filme se passa no sudoeste do Texas e não é exatamente um Western, mas um descendente contemporâneo daquele gênero. O autor levou 25 anos até conseguir que o filme fosse feito – apesar de termos tido somente 23 dias para filmá-lo e dois ou três milhões de dólares para fazê-lo. Mas, acho que nunca gostei tanto de um filme quanto deste em toda a minha carreira. E este é o tipo de filme que consegue me tirar da fazenda.

    Obviamente você ainda tem muito carinho pelo papel que interpretou em Os Pistoleiros do Oeste. As pessoas ainda lhe perguntam sobre isso?

    Sim, o filme é como a bíblia no Texas. Na verdade, uma mulher do Texas uma vez chegou perto de mim e disse. "Sr. Duvall eu não permitiria que meu futuro genro fizesse parte da minha família antes que ele assistisse Os Pistoleiros do Oeste!" Este é o tipo de ênfase que o filme recebe por lá.

    Você tem planos para mais alguns faroestes?

    Sim, sempre conto com a possibilidade de que westerns irão aparecer e, recentemente, tentei adquirir os direitos de um livro chamado The Day The Cowboys Quit, escrito por Elmer Kelton, que pode muito bem ser o melhor autor de westerns que já existiu. O livro é sobre quando os cowboys fizeram greve contra os grandes proprietários de ranchos. Esperava que, talvez, Charlie Mitchell que escreveu o roteiro de Segredos de Um Funeral – um outro filme no qual trabalhei e adorei – pudesse adaptá-lo. Mas, quem sabe? Tentar levantar fundos para fazer um filme pode ser muito difícil.

    De onde vem sua paixão por Westerns? Você cresceu assistindo este tipo de filme?

    Sim, os ingleses têm Shakespeare, os franceses têm Moliere, mas o Western é nosso. É nosso gênero, o qual sempre adorei. Quando era criança, ia também muitas vezes para o rancho do meu tio no norte de Montana e aquele rancho foi provavelmente o início de minha paixão por Westerns. A experiência realmente me fez perceber que, desde muito cedo em minha vida, algum dia gostaria de interpretar um cowboy nas telas do cinema. Isso provavelmente explica porque eu participei de alguns deles, incluindo Rastro Perdido e Pacto de Justiça

    Todos possuem sua própria interpretação favorita de Robert Duvall. De quais papéis você se orgulha mais?

    Interpretar Stalin em um filme para TV (Stalin, 1992) nos anos 90 foi um dos destaques e não sei se poderia melhorar minha cena final naquele filme. Até Sergey Mikhalov, que escreveu o Hino Nacional da Rússia disse que a cena foi "a alma de Stalin" e esta foi a melhor crítica que eu jamais recebi em toda minha vida! Portanto, sim, esta interpretação e meu papel como Gus McRae em Os Pistoleiros do Oeste e na Broadway quando fiz American Buffalo, foram as melhores críticas que jamais recebi e provavelmente as melhores interpretações que jamais fiz.

    Mas o que você diz de O Poderoso Chefão e Apocalypse Now?

    Bem, trabalhar com Francis Ford Coppola foi ótimo. Voltaria a fazê-los também – O Poderoso Chefão, O Poderoso Chefão 2 e Apocalypse Now. Mesmo atualmente, as pessoas se aproximam e fazem referência a Apocalypse Now. Elas dizem, "Adoro o cheiro de Napalm de manhã". É como se eles e eu somos os únicos que estão compartilhando este segredo e foi uma grande honra receber o Prêmio BAFTA por aquele papel na Inglaterra.

    Você alguma vez considerou outra carreira além da interpretação?

    É estanho mas, quando estava na escola no final da Guerra da Coreia não estava indo muito bem. Era de uma família com passado militar; meu pai foi para a Academia Naval quando tinha 16 anos. Talvez, meus pais teriam gostado que eu seguisse a tradição militar, mas eles podiam prever que aquela não seria a vida adequada para mim, então eles tipo me empurraram para a interpretação. Foi uma coisa incomum o que fizeram, mas foi oportuna porque na área acadêmica nunca teria me saído bem. Então foram eles que disseram, 'por favor, tente a interpretação'. E agradeço a eles até hoje por terem feito isso.

    Onde você estudou arte dramática?

    Foi num colégio no Sul de Illinois do qual ninguém nunca havia ouvido falar. Mas o chefe do departamento de arte dramática era um maravilhoso senhor que acreditava que o céu era o limite. Minha primeira peça foi um ato único de mímica, tendo a música de Stravinsky como fundo. Nunca olhei para trás. Minha atuação foi interrompida por certo tempo pelo exército mas, quando saí, fui direto para Nova York e lá mergulhei completamente no teatro.

    Sim, você estava na Neighborhood Playhouse, não estava, com Dustin Hoffman, James Caan e Gene Hackman? Deve ter sido uma época incrível…

    Sim, os conheci em Nova York, apesar de que eles tinham estado na Pasadena Playhouse na Califórnia. Dividi um apartamento com Dustin naquela época e era amigo próximo de James e Gene Hackman. Depois de Nova York seguimos caminhos separados e como os Estados Unidos são um país tão grande, você nem sempre vê as pessoas o tanto quando gostaria. Depois, muitos anos mais tarde, em 1993, Gene Hackman e eu fizemos o filme Gerônimo - Uma Lenda Americana (foto) juntos. Foi como se nunca tivéssemos nos separado. O bom relacionamento estava bem ali, tudo novamente, de imediato. Foi assim "Olá, como vai, cara? Que bom ver você…". E depois veio o "ação" e começamos a interpretar e depois veio o 'corta' e começamos a conversar novamente. Pareceu que continuamos de onde havíamos parado.

    Você faz parte daquela que possivelmente é a melhor geração de atores de todos os tempos. Mas, você identifica novos atores da atualidade que você admira?

    Sim, com certeza. Acho que eles estão melhores do que nunca e em todos os países. Temos atores maravilhosos agora porque as portas estão abertas. Assistiu ao filme Snatch - Porcos e Diamantes com Brad Pitt, por exemplo? As pessoas dizem, "oh Brad Pitt", daquela maneira desdenhosa, mas assistam aquela interpretação. É excelente. E veja Joaquin Phoenix em O Mestre – ele é maravilhoso. Ele estava melhor do que nunca no filme. E aquela interpretação se classifica entre as melhores de todos os tempos.

    Quando você está no set de filmagens você aprecia tanto quanto sempre apreciou?

    Depende. Certamente, adorei trabalhar em A Night in Old Mexico. Foi uma experiência incrível, com um grande diretor (Emilio Aragon) então irei sempre me lembrar do filme como um dos destaques de meus muitos anos nesta área. Então, há certas coisas que ainda continuam a inspirar você como ator.

    Gostaria também de dirigir um pouco mais?

    Sim. Escrever e dirigir. O Apóstolo e O Tango e o Assassino me deram gosto pela coisa e adoraria dirigir um pouco mais, mas é difícil encontrar o material adequado.

    Sua esposa, Luciana Pedraza, foi uma das estrelas de O Tango e o Assassino, não foi?

    Sim, foi, e ela praticamente roubou a cena de todo mundo, incluindo a mim! (risos). Ela é incrivelmente inteligente, eu que o diga. A sua avó era Susana Ferrari Billinghurst, a primeira mulher piloto da Argentina. Ela vem de uma fascinante família de mulheres exuberantes. Sigo seus conselhos sobre várias coisas, incluindo os papéis que interpreto e as coisas que gostaria de dirigir.

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