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    Exclusivo - Diretora fala sobre as dificuldades em rodar Marcelo Yuka no Caminho das Setas

    Daniela Broitman trabalhou por oito anos no documentário, atualmente em cartaz nos cinemas.

    por Francisco Russo

    Conhecido nacionalmente graças ao trabalho como baterista e compositor d'O Rappa, Marcelo Yuka teve sua vida transformada em 9 de novembro de 2000. Ao impedir um assalto no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, ele levou nove tiros e ficou paraplégico. É a partir deste fato marcante que a história de sua vida é acompanhada no documentário Marcelo Yuka no Caminho das Setas, atualmente em cartaz nos cinemas.

    O AdoroCinema conversou com a diretora do longa-metragem, Daniela Broitman, que falou sobre como nasceu a ideia do projeto e as dificuldades enfrentadas ao longo de oito anos de filmagens. O resultado do bate-papo você confere logo abaixo.

    AdoroCinema: Como nasceu a ideia do filme e como foi sua aproximação com o Marcelo Yuka?

    Daniela Broitman: Já conhecia o Marcelo, pois éramos amigos. É claro que o processo de fazer o filme nos aproximou, pois passamos a ter uma convivência ainda mais próxima. Foi justamente por conhecê-lo que quis muito fazer o filme e, por conhecer mais o Marcelo do que o Yuka, é que pude trazer este lado pouco conhecido dele. É um lado mais humano, de dúvidas e fraquezas, como existe em qualquer outro ser humano.

    AC: Foi difícil convencê-lo a fazer o filme?

    Daniela: Foi. Em um primeiro momento, quando liguei a câmera e era uma coisa mais informal, ele não se incomodava e até achava graça. Quando precisou assinar uma autorização de uso de imagem, aí começou a ficar um pouco mais complicado. Quando ele viu que era sério, começou a questionar sobre o porquê de fazer um filme sobre ele e que era muito novo para ter uma cinebiografia. Então teve sim esta dificuldade. Foi uma tarefa bem árdua, pois não é normal uma pessoa se expor assim e ter sua vida contada na telona.

    AC: Algo que chama a atenção é que o Marcelo Yuka é bastante franco em suas declarações, sem esconder a dor que sente e a mágoa pela saída d'O Rappa e de outras situações.

    Daniela: O Marcelo é um cara honesto e ele sempre quis que o filme fosse muito honesto. Nunca foi nosso interesse fazer um filme manipulado, que levasse as pessoas às lágrimas. Mas não foi algo fácil, pois ele tinha muitos questionamentos se deveria se expor desta maneira. O que possibilitou isto foi nossa relação de confiança e a maneira como o filme foi conduzido. No último corte, quando fui mostrar o filme a ele, em nenhum momento houve um pedido para retirar algo. Até perguntei se as cenas que revelavam sua fragilidade não o incomodavam e ele me disse que sim, mas que eram verdadeiras e sinceras, então tudo bem. Ele também teve uma coragem enorme.

    AC: Um dos pontos sensíveis do filme é quando toca na questão da saída do Marcelo Yuka d'O Rappa. Fica muito nítido que existe uma mágoa entre eles, o que acredito que seja um certo choque para quem acompanhou a banda. Como você conduziu esta questão, já que ela era essencial para contar a história do Marcelo no filme?

    Daniela: Esta foi uma das sequências mais difíceis do filme, para todo mundo. Foi complicado, pois eles não queriam falar. O Marcelo mesmo entendia que era importante para o filme, mas não tinha a menor vontade de falar sobre o assunto. Desde que comecei a fazer o filme avisava que ele teria que falar sobre isto e, em alguns momentos, cheguei a gravar entrevistas, mas no meio o Marcelo mudava de assunto.

    Consegui falar com alguns integrantes da banda primeiro. O Falcão deu um depoimento longuíssimo, ficou comigo cerca de três horas. Foi um grande desabafo, imagino que de certa forma possa ter sido um alívio ter falado sobre o assunto após tantos anos.

    AC: O filme acompanha de quando o Marcelo levou nove tiros até o show no Rock in Rio 2011. Qual foi o período de filmagens, em que você esteve acompanhando-o no cotidiano?

    Daniela: Começou em 2004, mas ficou mais sistemático em 2006, quando concretizei o projeto e tive a autorização do uso de imagens. Teve uma época em que fiquei na ponte aérea, pois estava morando em São Paulo para concluir meu filme anterior. Quando ganhei uma bolsa da Fundação Guggenheim, em 2007, pude voltar a morar no Rio e estar perto dele, o que facilitou muito. As filmagens foram até 2011, inclusive uma semana antes do lançamento no Festival do Rio eu ainda mudei o final do filme.

    AC: O filme ficou pronto em 2011, mas apenas entrou em circuito um ano depois. Qual o motivo de tamanha demora?

    Daniela: A maioria dos documentários chega ao circuito um bom tempo depois, porque a distribuição é complicada. Tem muita produção, mas é um funil na distribuição. Há pouquíssimo incentivo e as distribuidoras não querem investir em documentários ou em filmes pequenos e médios, que não podem dar grande retorno. Então vivemos um momento complicado, onde além destes problemas há ainda poucos cinemas e o ingresso é muito caro.

    AC: Este atraso teve algo a ver com o fato do Marcelo Yuka ter sido candidato a vice-prefeito do Rio de Janeiro, na chapa do Marcelo Freixo?

    Daniela: A gente poderia ter lançado o filme um pouco mais cedo, no meio do ano, mas ele estaria no meio da campanha. Eu não queria misturar a questão política partidária com o filme, pois sabia que haveriam muitos comentários de que o filme tinha sido lançado para fazer campanha. Na verdade ele está sendo feito há oito anos, seria muito injusto com o filme. O Marcelo estaria também bastante envolvido com a campanha e não teria tempo para participar da divulgação, o que é também muito importante.

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