por Bruno Carmelo
Os dois são muito conhecidos pelo público, mas nas telinhas: Marcelo Adnet brilha nos programas da MTV, enquanto Eduardo Sterblitch multiplica os personagens engraçados no Pânico na TV. No lançamento Os Penetras, de Andrucha Waddington, eles trabalham pela primeira vez juntos, nesta que é a primeira experiência no cinema de Sterblitch.
Em entrevista exclusiva ao AdoroCinema, eles não mediram as palavras para dizer o que realmente pensam da televisão, do cinema e das formas de humor que existem por aí. Confira abaixo este divertido bate-papo:
Como surgiu a oportunidade de trabalhar em Os Penetras?
Marcelo Adnet: Foi um convite antigo do Andrucha, este projeto existe faz tempo. Eu já tinha uma história na Conspiração Filmes (produtora de Os Penetras), foi aqui que eu fiz o Podecrer!, meu primeiro filme. Foi isso que me levou à MTV. Depois eu fiz o seriado Mandrake, que foi o que matou meu personagem, que era horrível. Felizmente mataram este personagem.
Eduardo Sterblitch: Sacanagem!
Marcelo Adnet: Mas é tudo verdade! Não tenho nenhum problema em falar isso, e eles sabem que meu personagem era horroroso. Eu nunca tinha trabalhado com o Andrucha, que é um baita artista, um grande cineasta. Quando ele veio com o projeto, eu topei na hora. Nós fizemos uma ou duas leituras, mas quando o Edu leu, o texto deixou de ser um pedaço de papel e se tornou realidade. O Edu chegou no início do projeto.
Eduardo Sterblitch: Eu conhecia o trabalho do Andrucha porque ele é um dos poucos que arrisca, sempre tentando um gênero diferente. Eu também tento me arriscar com coisas novas. Eu gostei da forma deste filme, que é muito simples. Eu acho que comédia tem que ser simples, mas não precisa ser fácil. Ela não precisa ser complicada, mas pode ser complexa. Na hora eu sabia que era um filme onde eu poderia criar, o filme seria mais do que piadas. Se for para contar piadas, eu fico na televisão, eu já faço isso lá.
O filme dá a impressão de ter muito improviso. Como foram as filmagens?
Eduardo Sterblitch: Não tem como não ter improviso! O Adnet e eu mesmo viemos da escola do improviso, isso está no nosso sangue. A maioria das coisas que eu fiz na minha vida foi muito ruins. Então eu precisava improvisar para me sentir menos mal... O legal do Andrucha é que ele dá uma grande liberdade para os atores. O artista se perde quando tem pudor.
Marcelo Adnet: Quando a gente faz cinema, a gente imagina que vai ler o roteiro, mudar uma ou outra palavrinha para ficar natural, e pronto, começam as filmagens. O Andrucha abriu o projeto para a gente, ele instigava os atores a comentarem cada cena. Ele dizia: “Você acha isso bom? Você acha isso engraçado?”. Primeiro, a gente leu o roteiro 38 vezes - eu contei! E depois teve um longo trabalho de mesa. Na televisão, a gente se pergunta: “Como eu posso fazer o público rir?” Já neste filme, nossa questão era: “Como eu posso contar essa história?”. Tem essa mudança de percepção, sem fazer graça porque temos fazer graça. É bem diferente: a gente pensa na história, e a graça vem naturalmente.
Eduardo Sterblitch: Também tem o ritmo de produção, que é diferente. Na televisão, a gente tem um tempo menor para produzir. A gente tem que improvisar, para fazer render. É preciso surpreender com pouco tempo. No cinema, a construção do personagem é mais fácil, a gente tem tempo para digerir a história.
Marcelo Adnet: Às vezes, os produtores trazem um seriado ou um programa de humor ao cinema. Ficam apenas cenas engraçadas, uma após a outra. Nós temos vários comediantes que fazem isso muito bem, mas ter uma comédia com história já muda bastante coisa, e eu gosto muito dessa ideia.
Falando em outras comédias, eu tenho impressão de que Os Penetras é bastante diferente de As Aventuras de Agamenon, o Repórter, ou Até Que a Sorte nos Separe, por exemplo. Vocês concordam com isso?
Eduardo Sterblitch: O Andrucha é um cara nada televisivo. Ele ama cinema, então automaticamente o filme dele é um filme mesmo. Sem criticar os outros filmes, longe disso. O Andrucha é caprichoso, ele quer fazer uma obra de verdade. Ele nunca faria um cinema televisivo. Ele mesmo me disse que não usa contra-plano [alternância da imagem entre os rostos de duas pessoas, durante um diálogo, por exemplo]. Ele falou: “Meu filme não tem contra-plano. Eu não faço novela, eu faço cinema”. Ele é um cara revoltado com isso, ele quer fazer da maneira dele. O fato de ele me escolher já foi um risco, porque eu nunca tinha feito cinema. Ninguém sabia como eu me sairia.
Marcelo Adnet: Quando a gente vê que o cara tem tanto carinho pelo projeto, a gente também pensa: “Agora eu não posso ferrar”. Quando a gente é dirigido por alguém mais solto, é fácil não dar a mínima. O diretor, no cinema, dita a regra do jogo. O Andrucha é o verdadeiro protagonista de Os Penetras.
É curioso vocês ressaltarem a diferença entre cinema e televisão, porque a maioria das novas comédias têm se apropriado dos formatos e dos novos talentos da televisão.
Eduardo Sterblitch: É inevitável, porque não tem indústria de cinema de Brasil. A única indústria forte que a gente tem são as novelas, é a televisão. No cinema, tem que ter patrocínio... Não aparece, antes de uma novela, a vinheta “Petrobrás apresenta”. Você não vai ver isso antes de Avenida Brasil. É a Globo que produz, ela é a indústria. Automaticamente, como as pessoas vêm muito mais televisão do que cinema, é normal que o estilo da TV seja usado para atrair público.
Marcelo Adnet: Quando o Eduardo fez este primeiro filme, dá para ver que ele está fazendo cinema. Ele não tem os mesmos trejeitos do Melhor do Melhor do Mundo, ou em outros quadros. O cara é da televisão. Eu mesmo fui para a televisão porque tinha feito o Podecrer! O Eduardo adaptou o tom dele para o cinema, ele e outros atores da televisão são capazes de fazer cinema. Não são todos que conseguem, mas dá para fazer isso.
E o fato de trabalhar com outros atores experientes na comédia, como o Luis Gustavo e a Susana Vieira? A própria Susana te elogiou bastante, Eduardo.
Marcelo Adnet: Olha, a gente só conseguiu reunir esse elenco porque era cinema. Eu nunca poderia ter chamado o Luis Gustavo para uma peça, por exemplo. Na televisão, cada um é de uma emissora, não tem autorização, não pode. Em uma publicidade, ninguém seria louco de contratar pessoas tão diferentes. Por isso deu certo, por ser cinema. Foi um clima muito tranquilo. A gente foi com um pé atrás, mas ninguém botou banca.
Eduardo Sterblitch: A Susana Vieira me elogiou por ser meu primeiro trabalho, ela estava surpresa. Ela já conhecia muito bem o trabalho do Adnet, por isso ela não falou dele.
No ano de 2012, quase todos os dramas nacionais fracassaram nas bilheterias. Os grandes sucessos foram, na maioria, comédias populares. Por que vocês acham que isso acontece?
Eduardo Sterblitch: Seria preciso uma tese para responder... É claro que fazer rir é muito mais popular que fazer chorar. Talvez as pessoas queiram esquecer os problemas. Mas eu não sei se existe um gênero "comédia" tão definido... Eu não rio de dar gargalhadas com Os Penetras, por exemplo.
Marcelo Adnet: Isso acontece muito em teatro. A gente fica preocupado quando a plateia não está gargalhando, mas às vezes eles estão todos sorrindo, contentes. Quando eu vejo Chaplin, eu fico encantado, mas não rio. Mas quando eu vejo minha mãe caindo, eu rio pra caramba. Que gênero é minha mãe caindo? Tem vários tipos de comédia, entende? Mas é isso mesmo, o público trabalha cada vez mais, tem pouco tempo, ninguém vai dizer: “Ah, agora para relaxar, eu quero um draminha, vamos sofrer um pouco”. A comédia é um gênero muito completo. Para fazer graça, ela pode usar o terror, ou o drama.
Eduardo Sterblitch: Muitas vezes o humor não é engraçado, não tem uma piada. O Adnet e eu, a gente trabalha na televisão com piada, com punch. Quando eu faço humor no Pânico na TV, tem uma piada, com começo e fim. Tem um punch e acabou, é algo popular. Mas o cinema é muito mais cheio de detalhes. Por exemplo, tem uma cena de sexo minha no filme. Eu poderia pegar a teta e ficar brincando com ela, ou enfiar o pé inteiro na minha boca. Mas não precisava disso, eu não preciso fazer rir a qualquer preço. O público não precisa rir, ele precisa entrar na história.
Marcelo Adnet: E tem um fenômeno hoje em dia: todo mundo quer usar comédia. Se o cara vende um produto, que seja escapador de automóvel, ele vai fazer um comercial com comédia, do tipo “Escapou? Bip-Bip! Compra um escapador!” A comédia virou um instrumento indispensável para chamar a atenção, ela invadiu tudo. Eu só me pergunto aonde isso tudo vai levar...
Os Penetras