por Lucas Salgado
Jonathan Dayton e Valerie Faris começaram suas trajetórias na sétima arte em 2006, com o fenômeno do cinema independente Pequena Miss Sunshine. Na sequência, trabalharam com vários roteiros, mas nunca conseguiam transformá-los em longas. Até que surgiu Ruby Sparks - A Namorada Perfeita. A dupla esteve no Rio de Janeiro para apresentar o filme no Festival do Rio 2012 e falou com exclusividade ao AdoroCinema. Abaixo, você confere o bate-papo completo.
Como Ruby Sparks chegou até vocês?
Valerie Faris: Nós mantivemos contato com Paul Dano após Pequena Miss Sunshine e conhecemos Zoe Kazan (namorada dele). Eles vieram até nós com um roteiro e deste o início sabíamos que viveriam os dois protagonistas. Amamos a história e a ideia de trabalhar com os dois.
Jonathan Dayton: Foi algo muito orgânico.
VF: Nós trabalhamos por nove meses com a Zoe no roteiro, transformando-o no que gostaríamos de fazer. Foi ótimo trabalhar com ela como escritora, nos demos muito bem. Algumas vezes os filmes simplesmente acontecem. Trabalhamos em vários projetos nestes seis anos entre Pequena Miss Sunshine e Ruby Sparks, e é muito duro quando o filme não acontece, é muito decepcionante. Em Ruby, tudo se encaixou.
Como foi dirigir uma atriz que também era roteirista e produtora do longa?
JD: Nos deram o corte final. E isso foi muito importante, pois nós precisávamos ser os autores do filme. E um dos motivos que nos levaram a ficar tanto tempo com a Zoe antes das filmagens foi que queríamos que ela deixasse de ser a roteirista antes das gravações. Ela precisava ser só a atriz. Passamos nove meses juntos e fizemos 17 versões do roteiro. Quando chegou a hora de rodar, ela não precisava mais se preocupar com as palavras.
Ruby Sparks tem a mesma sensibilidade que Pequena Miss Sunshine, unindo bem o drama e a comédia. É quase como um conto de fadas sobre a solidão. O que atrai vocês neste tipo de projeto?
VF: Sempre procuramos por histórias que são sobre alguma coisa, mas que também tenha humor e uma pitada de escuridão e dor. Porque é assim que experimentamos a vida. Não é puramente uma comédia ou um drama. O que nos atrai é esta mistura. E também gostamos muito da história abordar elementos muito ricos, como essa ideia de que queremos controlar tudo em nossa vida, inclusive aquele que amamos.
JD: É uma história de amor pouco usual. Sentimos que era algo muito refrescante e surpreendente.
VF: Assim como Miss Sunshine olhava para a família de um ponto de vista diferente, este olha o relacionamento.
Pequena Miss Sunshine foi o primeiro filme que mostrou o quão talentoso é Paul Dano. Agora, ele já é um ator mais consagrado, tendo feito Sangue Negro e outros. Como foi voltar a trabalhar com esta nova pessoa?
VF: Amamos Paul e sempre estivemos perto dele. Queríamos mostrar o alcance dele neste filme. Ele é um cara muito charmoso e engraçado. E a maioria dos papéis dele são meio sombrios e pra baixo. Foi legal mostrar seu lado mais humorístico.
A trilha é um elemento marcante em Ruby Sparks e também em Miss Sunshine. Como vocês avaliam a importância da trilha sonora em seus filmes?
JD: Fico feliz que tenha dito isso, porque é trilha é sim extremamente importante para nós. Trabalhamos muito próximo ao compositor. Ele, literalmente, se mudou para a sala de edição por três meses e compôs a trilha. Isso é muito incomum, pois normalmente você dá o filme para o compositor e ele trabalha por duas semanas. O longa e a música foram criados juntos, então a trilha inspirava a montagem. Trabalhamos com o mesmo compositor (Nick Urata), mas a trilha é bem diferente de Pequena Miss Sunshine.
Como foi a seleção do elenco? Em especial, as escolhas de Antonio Banderas e Annette Bening
VF: O personagem do Banderas é um cara que deveria enlouquecer o Calvin. Ele é o oposto deste. É muito quente e...
JD: Livre!
VF: Sim, livre. Começamos a pensar em quem seria o oposto de Paul e quando pensamos no Antonio rimos bastante.
JD: Encontramos com ele e ficou muito empolgado com o papel.
VF: Ele deu várias ideias e até sugeriu os óculos do personagem.
JD: A Annette também ficou feliz com o papel. É muito legal que esse grandes atores aceitem papéis menores. Dá algo mais ao filme.
VF: Ela foi ótima. Fiquei pensando que teríamos que negociar, mas ela veio e disse: “Eu quero fazer o seu filme.” No final das contas, foi muito simples.
Falem um pouco sobre o processo de dirigir um filme a quatro mãos?
VF: Quatro mãos e quatro olhos. (Risos)
JD: É muito importante que nos preparemos antes de chegar para as filmagens. No set, somos uma só mente. Nós dois fazemos tudo. Falamos com os atores, com os câmeras. São muitas vantagens. Temos a perspectiva masculina e feminina.
VF: O que é mais interessante para gente é a preparação, o diálogo sobre o que é importante para a história e para os personagens. Criamos o filme nas nossas conversas e trazemos para elas todas as outras pessoas, os atores, a equipe. Todos os nossos filmes são colaborativos.
Existe alguma diferença entre os estilos de direção?
JD: Temos sensibilidades diferentes, mas acho que o nosso trabalho é justamente sobre o encontro dessas.
VF: O nós sempre trabalhamos juntos. Só sabemos fazer assim. Geralmente não temos grandes discussões. Debatemos algumas coisas, é claro, mas nunca temos visões completamente diferentes um do outro.
Vocês têm algum projeto pela frente? Espero que não levem outros seis anos.
Juntos: Também esperamos. (Risos)
JD: Temos algumas coisas em que estamos trabalhando, mas depois de Pequena Miss Sunshine percebemos o quão importante era levar ao público algo que te dava orgulho. Estamos orgulhosos de Ruby Sparks. São várias circunstâncias especiais que devem ocorrer para realizar um filme. É está cada vez mais difícil para produções independentes.
VF: Mas estamos preparando o piloto de uma séria para a HBO. Chama-se The Landlord e foi escrito pelo Daniel Clowes, que é um autor de quadrinhos que fez o roteiro de Ghost World - Aprendendo a Viver. É bem engraçado. Nos apaixonamos pelo texto. Deve ser nosso próximo projeto.