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    Rocky 4
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Rocky 4

    Contra a Guerra Fria

    por Bruno Carmelo

    Reviravolta na franquia: após o ponto baixo de Rocky III (que constituiu, no entanto, um sucesso de bilheteria), o diretor e roteirista Sylvester Stallone encontrou um modo criativo para transformar o boxeador em azarão novamente – algo essencial à franquia sobre superação e aceitação dos próprios limites. Agora, Rocky deve combater os russos, na própria União Soviética. Pela primeira vez, a saga abandona os Estados Unidos para, paradoxalmente, fazer a sua obra mais ideologicamente americana.

    A obrigação de ir à Rússia surge após um dilema moral: quando um lutador soviético aparentemente indestrutível (Dolph Lundgren, filmado como um androide gigantesco) desafia o aposentado Apollo Creed (Carl Weathers), o resultado é um massacre e a consequente morte do antigo campeão. Rocky vê-se obrigado a derrotar o inimigo em território estrangeiro, provando de uma vez por todas a soberania capitalista em relação ao pensamento socialista.

    A política nunca tinha sido abordada de modo tão frontal na saga esportiva. Fala-se diretamente na Guerra Fria: o início, além de retomar as cenas do filme anterior, como de costume, mostra uma luva americana se chocando a outra luva com a bandeira soviética. A batalha, é claro, ocorre no domínio científico: o lutador Ivan Drago (Lundgren) é testado por máquinas avançadas, e comprova sua eficiência em números.

    Como estamos na era da tecnologia, o roteiro faz questão de comprovar que ambos os lados da disputa são igualmente bem equipados: enquanto Rocky tem uma empregada-robô em casa, no melhor estilo Os Jetsons, Drago é apresentado ao som de máquinas, ligado a aparelhos como um robô. É difícil dizer que esta é uma obra imparcial, mas pelo menos ela busca um ângulo pacifista: Stallone pretende provar que um povo não é melhor que o outro, fazendo do combate no ringue uma alegoria evidente da guerra. O personagem inclusive lança um discurso contra os conflitos, de qualquer lado. “Faça esporte, não faça guerra” é o lema.

    Esteticamente, o quarto episódio reprisa os piores tiques e vícios do terceiro filme: câmera lenta, névoa, cortinas ao vento, trilha sonora cafona, frases inspiradoras como “Você não pode mudar quem você realmente é”. Tudo lembra um grande videoclipe dos anos 1980, numa linguagem cinematográfica datada, mas que buscava colar a obra ao seu tempo, oferecendo uma leitura voluntariamente sintomática do mundo. Nesse sentido, o filme funciona bem – assim como funciona o longuíssimo combate entre Rocky e Drago, provavelmente a cena de luta mais longa da franquia.

    Rocky IV consegue resgatar a personalidade essencial de seus protagonistas (Apollo volta a ser arrogante, Adrian recupera sua timidez, Paulie constrange a todos), perdida no terceiro filme, além de ser realmente inovador com a mudança de cenário e com a temática política. Falta à produção, no entanto, um retrato mais cuidadoso dos espaços e um refinamento estético que Stallone nunca teve como diretor – mas que retornaria à saga no episódio 5.

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