Minha conta
    Campaña Antiargentina
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    Campaña Antiargentina

    Filme com déficit de atenção

    por Bruno Carmelo

    Por onde começar? Bom, existe uma campanha contra a Argentina, liderada por um misterioso grupo maçônico. Foram eles que mataram Carlos Gardel, Evita Perón, e que estão de olho em Ricardo Darín. Os maçons impediram que Maradona jogasse numa partida importante da Copa de 1978, e só deixaram um argentino assumir o mais alto posto da Igreja católica para não chamar a atenção. Mas o papa Francisco também corre riscos. O que ganham com isso? De onde vem tamanho ódio? De que maneira efetuaram os crimes? Pouco importa.

    Essa é a teoria maluca de um personagem ainda mais estúpido. Leo J. (Juan Gil Navarro) é um famoso cantor e ator, sem nenhum talento, mas querido pelo público adolescente. Ele herda uma casa e descobre nas ruínas que a sua família está envolvida na luta contra os supostos maçons assassinos. Assim, o falso documentário sobre Leo J. transforma-se num falso documentário sobre outro falso documentário, quando o artista decide fazer o seu próprio filme para comprovar a conspiração.

    Pode parecer confuso, mas isso é apenas o começo de Campaña Antiargentina. Entram em cena ilustrações com Playmobils, imagens de arquivo, depoimentos de especialistas, trechos dos filmes de Leo J., canções dele e do filme, muitas caretas, gafes, momentos de paranoia, pistas sombrias, fitas secretas, sexo e tentativas de assassinato. O artista contrata um cinegrafista amador para filmá-lo, de modo que o filme possa alternar as imagens do diretor Alejandro Parysow com aquelas do personagem amador, e mais outras, em ângulos improváveis, captadas por possíveis espiões.

    A comédia não faz o menor sentido, mas avança com a velocidade e convicção de alguém que sabe o que está dizendo. Nenhuma ideia permanece em tela por mais de cinco segundos antes de ser substituída por outro registro, outra locação, com novos personagens. Ah, sim, com direito a idas e vindas no tempo. O roteiro parece ter sido escrito por pessoas em viagem muito ruim de drogas alucinógenas, e editada de acordo com os mesmos princípios. Seria este o humor previsto para a época vertiginosa dos vídeos no YouTube? As referências pop e a lógica do excesso podem fazer sucesso com o público jovem, mas é difícil extrair qualquer raciocínio minimamente coerente desta história.

    Parysow parece feliz demais com a sua estrutura caótica para desacelerar o ritmo e refletir sobre o dispositivo. Mesmo no desfecho, o filme aponta para várias saídas possíveis, e depois da cena final, vem um momento pós-créditos, e depois mais um, com canção longuíssima e imagens antigas de dançarinas de cabaré. Campaña Antiargentina é um filme do “tudo ao mesmo tempo agora”, acreditando que uma identidade nacional se esconde na multiplicação de citações a personalidades argentinas e na justaposição incompreensível de imagens. É uma grande bobagem, mas que acredita ser engraçada, perspicaz e inovadora.

    Filme visto no 44º Festival de Cinema de Gramado, em agosto de 2016.

    Quer ver mais críticas?
    Back to Top