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    Detetives do Prédio Azul (D.P.A.) - O Filme
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Detetives do Prédio Azul (D.P.A.) - O Filme

    Encontro de gerações

    por Francisco Russo

    Se o cinema brasileiro tem uma certa tradição em adaptar ícones televisivos, raros são os filmes que não dependem do carisma de alguma personalidade. Nascido no canal por assinatura Gloob, Detetives do Prédio Azul tem como proposta natural ser estrelado por crianças-detetives, que desvendam mistérios de todo tipo dentro do ambiente do título. Para uma versão cinematográfica, como de praxe, a ideia era ampliar o leque: mais personagens, mais desafios, mais investimento na produção. Dentro desta fórmula pré-estabelecida, o grande objetivo era se tornar maior sem perder a essência - e nisto, o longa dirigido por André Pellenz é bem competente.

    Por mais que traga cacoetes estilísticos típicos da televisão, algo até mesmo inevitável diante de sua origem, D.P.A. - O Filme apresenta um apuro estético raro nas produções infantis locais. A começar pela caracterização dos personagens, especialmente os da festa de bruxos, com figurinos coloridos que dialogam diretamente com a personalidade mágica de cada um deles. O cuidado nos efeitos especiais é algo que também salta aos olhos, não só pela boa execução mas também pelo seu uso de forma contida, sem exagero. Mesmo nas sequências em que são vistos com mais intensidade, como na receita de Teobaldo ou no ataque dos livros com dentes, sua utilização não só é convincente, como pertinente ao momento da história.

    Outro ponto positivo é que, neste esforço em tornar tudo maior, o roteiro escrito por Flávia Lins e L.G. Bayão soube criar motivações também convincentes a cada uma das novidades. Todos os bruxos envolvidos - Otávio Müller, Maria Clara Gueiros, Mariana Ximenes e Ailton Graça - têm participação relevante na trama e o retorno dos detetives originais - Letícia Pedro, Caio ManhenteCauê Campos - também possui função narrativa, não se atendo apenas à mera observação sobre o quanto as antigas crianças cresceram. Para quem acompanhou a série pela TV, fica ainda o sabor da continuidade respeitada aliado à curiosidade em saber que fim levaram os personagens que deram início a esta trajetória.

    Por outro lado, há também uma certa irregularidade na narrativa decorrente não só do desnível entre os protagonistas - Pedro Henriques Motta, o Pippo, é de longe o mais carismático - como também de um excesso de didatismo. Se por um lado tal postura é até mesmo compreensível, devido ao público-alvo do longa-metragem, ainda assim há um exagero no sentido de entregar todas as informações bem mastigadas, de forma a não haver qualquer dúvida, o que provoca um certo cansaço. Além disto, o filme traz inúmeras referências visuais ao universo mágico criado nos filmes de Harry Potter, o que, se até facilita na identificação do universo bruxo, por outro lado demonstra uma certa falta de criatividade.

    Entretanto, o problema mais grave apresentado por Detetives do Prédio Azul é comportamental. Mais exatamente, na forma como os três detetives lidam com o zelador Severino (Ronaldo Reis, correto) quando precisam da ajuda dele com o clubinho móvel. A postura incisiva das crianças, meio que ordenando que as ajudasse, é reflexo de um preconceito arraigado em relação a subalternos, no sentido que estes tenham por obrigação servi-los a todo momento - mesmo que, no caso, sejam os filhos do patrão. Tal postura, de tão entranhada na sociedade, é apresentada como algo camuflado, "natural", o que não esconde o fundo preconceituoso existente por trás de tais atos. Isto sem falar no próprio estereótipo representado por Severino, o típico nordestino ingênuo que veio para a cidade grande em busca de uma vida melhor e que, por isso, se sujeita a este tipo de situação.

    Apesar disto, Detetives do Prédio Azul é um filme que agrada pelo capricho na execução, seja através do roteiro, da caracterização ou da própria ambientação. Neste ponto, o filme conta com um trunfo: a parceria com a Marinha, que possibilitou a gravação de cenas com um submarino de verdade. Tal situação agrega bastante ao imaginário infantil, foco principal deste longa-metragem, e também funciona bem dentro da dinâmica narrativa apresentada. Com um elenco adulto coeso, onde o destaque maior (de novo) fica com a Leocádia de Tamara Taxman, trata-se de um filme bem feito que dialoga com competência com seu público-alvo, por mais que seja ainda preso a um certo tom televisivo.

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