Sob o olhar dos animais
por Francisco RussoDos grandes estúdios de Hollywood, a Sony é quem mais tem investido no crescente filão dos filmes cristãos. Após bons resultados comerciais com os questionáveis O Céu é de Verdade e Milagres do Paraíso, chegou a vez de mirar o alvo nas animações. Assim surge A Estrela de Belém, que replica a clássica história do nascimento de Jesus Cristo com um viés um tanto quanto inusitado: a partir da perspectiva dos animais que os cercam.
Diante deste cenário, Maria e José não apenas são coadjuvantes - assim como todos os demais humanos retratados - como ganharam contornos comportamentais mais atuais, de forma a provocar uma fácil identificação aos menores. José, por exemplo, possui um certo mal humor que serve à narrativa, sem deturpar sua imagem consagrada. Esta, no fim das contas, é uma preocupação constante: por mais que seja uma variação, é preciso manter os valores morais e simbólicos em torno do retratado. Desta forma, a amizade e o perdão são exaltados, a partir da dinâmica em torno do jovem asno Bo e seu fiel amigo pássaro, Davi.
Entretanto, por mais que haja tal preocupação, é importante ressaltar que A Estrela de Belém foge bastante do tom solene e didático típico de filmes religiosos - até mesmo os feitos em animação, como O Príncipe do Egito. Por mais que haja óbvias citações, elas surgem mais no sentido de contextualizar o feito do que propriamente para converter espectadores incautos - o que é um ponto bastante positivo. Com isso, o diretor Timothy Reckart está mais interessado em construir uma dinâmica calcada em trapalhadas e confusões, mais próxima ao público-alvo, estrelada por personagens carismáticos e um tanto quanto simplórios. O modo com tal proposta é apresentada, no fim das contas, é o maior problema do filme.
Por mais que haja um contexto claramente infantilizado, o roteiro de A Estrela de Belém falha (bastante) na construção da dinâmica envolvendo humanos e animais, especialmente em sequências onde os humanos são deixados de lado para que conversas entre os animais possam acontecer. Há também excessos no didatismo, com personagens repetindo algo mostrado visualmente segundos antes - o típico roteiro mastigado para não deixar qualquer dúvida, tão comum em Hollywood, que por vezes subestima a inteligência do espectador. Fora um punhado de situações esquemáticas, pontuadas por músicas cristãs, que ampliam um certo cansaço impregnado por uma história tão conhecida.
Bem intencionado, A Estrela de Belém tem como mérito maior a busca por uma certa originalidade em um cenário tão conhecido. São os cacoetes típicos de filmes infantis, mal empregados, que acabam prejudicando seu ritmo, por mais que surjam aqui e ali algumas boas sacadas - a menção à data, logo no início do filme, é a melhor delas. Apenas razoável.