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    Mademoiselle Paradis
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Mademoiselle Paradis

    Pela existência

    por Francisco Russo

    A primeira cena de Mademoiselle Paradis diz muito sobre a que veio este novo filme da diretora Barbara Albert. Nela, acompanhamos um close na protagonista Maria Dragus ao som de uma melodia ao piano, de forma que a beleza sonora contraste com a imagem dos olhos revirando de sua personagem principal, sem jamais a vermos dedilhar nas teclas. Sim, Maria Theresia, a mademoiselle Paradis, é uma pianista cega. E, apesar do filme tentar despistar, é na deficiência e não no virtuosismo que está seu foco principal.

    Tal iniciativa causa ainda mais estranheza ao saber quem é a personagem título, uma pianista consagrada na Alemanha do século XVIII que fez história não só por sua excelência mas, também, por incentivar que outras pessoas cegas aprendessem instrumentos musicais - é como se Mademoiselle Paradis, de certa forma, diminuísse os méritos artísticos de sua protagonista para focar, quase exclusivamente, apenas no âmbito da superação. Só que, ainda assim, o filme sequer caminha nesta associação entre visão e música, preferindo se ater às minúcias e fofocas da corte da época.

    A proposta é até bem direta e enunciada pela personagem-título, já nos minutos iniciais do filme: "Quem não vê não é visto, não é ouvido, não existe!". Daí tamanha dedicação em encontrar uma cura, ao ponto de seus pais entregá-la aos cuidados de um médico de métodos pouco convencionais. Por mais que tamanha ânsia seja absolutamente natural, é de se estranhar que a narrativa relegue sempre a segundo plano sua capacidade em tocar (muito) bem um instrumento difícil como o piano, preferindo o caminho fácil das dificuldades decorrentes em voltar a enxergar, para alguém que se habituou a viver na escuridão. Questões de profundidade e fatores externos para impulsionar a sensibilidade surgem aqui e ali, mais como elementos circenses em torno da atração principal do que propriamente na intenção de se aprofundar ao tema. Paradis, muito rapidamente, salta do posto de musicista para o de estrela de um freaky show qualquer, digna da trupe dos espetáculos organizados por P.T. Barnum - para quem não o conhece, vale conferir O Rei do Show.

    Diante de tal proposta, o filme entrega soluções preguiçosas para momentos chave de sua personagem principal, como o desenrolar do tratamento de cura e mesmo o porquê de tamanha desconfiança ao médico responsável pelo "milagre". Sem ter nada a ver com os problemas de roteiro, Maria Dragus cumpre sua parte ao entregar uma Maria Theresia sempre insegura, seja na escuridão ou na visão, mesmo que por motivos distintos. É seu trabalho que sustenta o interesse no longa-metragem em meio a tantas lacunas abertas e ao insólito fardão roxo de flores bordadas, exibido com galhardia pelo médico triunfante - uma decisão estilística no mínimo questionável da figurinista Veronika Albert, irmã da diretora.

    No fim das contas, Mademoiselle Paradis deixa a impressão de ser uma história de enfoque equivocado, seja ideológico ou mesmo como condução narrativa. Óbvio dentro do caminho que se propôs, o filme até aborda superficialmente o preconceito existente aos deficientes mas, de novo, sem se aprofundar no tema. Um ponto a se destacar é o esforço em usar apenas iluminação natural, que rende uma fotografia interessante e condizente com o período retratado. E só.

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