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    Descendentes 2
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Descendentes 2

    À prova de fracasso

    por Bruno Carmelo

    Desde o final de Descendentes (2015), a história da Disney deixava as portas abertas a uma sequência, que estreia na emissora dois anos mais tarde. Os atores principais retornam a seus papéis, assim como o diretor Kenny Ortega, na tentativa de reproduzir o sucesso do projeto inicial. Os conflitos são os mesmos: fazer o bem ou o mal, defender os interesses coletivos ou individuais, seguir o caminho dos pais ou traçar seu próprio rumo. Por um lado, Descendentes 2 traz os desdobramentos esperados de uma continuação. Por outro, efetua algumas escolhas menos óbvias, que merecem a nossa atenção.

    O projeto da sequência parece feito sob medida para agradar os fãs: os elementos que funcionaram no primeiro são ampliados, e as escolhas menos bem-sucedidas foram eliminadas. Seria interessante pensar no segundo filme menos como um projeto orgânico do que como produto realizado com toda a engenharia e o marketing necessários para o sucesso – sem muito espaço à espontaneidade e ao risco, mas também sem muitas possibilidades de fracasso.

    Assim, os números musicais se multiplicam, desde a cena inicial, e os romances aparecem em maior número. Os pré-adolescentes saem dos conflitos psicológicos para lutas física envolvendo espadas – sem sangue ou perigo real, é claro. Tecnicamente, Ortega mantém as canções excessivamente produzidas e alteradas digitalmente, que mal parecem saídas de um corpo humano. Por estarem em versão propícia aos rádios e à Internet, talvez se justifiquem pelo consumo imediato. Os cenários continuam teatrais, os efeitos visuais são particularmente pobres, mesmo que assumidos como tal. Neste universo de cabelos coloridos e roupas bizarras, um barco falso pode ser considerado um elemento coerente.

    A maior novidade é o afastamento dos pais nesta história intitulada, ironicamente, “descendentes”. Os vilões originais ocupavam papel de pouco destaque na trama anterior, e desaparecem por completo aqui. O peso do determinismo social, questionado na história de 2015, é abandonado em virtude de conflitos da passagem à fase adulta e dos amores românticos. Mal (Dove Cameron), Carlos (Cameron Boyce), Jay (Booboo Stewart) e Evie (Sofia Carson), filhos de Malévola, Cruella De Vil, Jafar e Rainha Má, respectivamente, citam seus pais, mas não se encontram com eles, mesmo a história se passando majoritariamente na ilha dos vilões. Esta é uma escolha interessante da sequência: depois de situar um filme inteiro na rica Auradon, a continuação mostra o outro lado da moeda, permitindo à direção de arte brincar na criação de uma favela kitsch.

    O ponto mais delicado desta metáfora é a associação entre pobreza e vilania. A ilha dos vilões é paupérrima e repleta de pessoas malvadas, enquanto o terreno dos príncipes bondosos esbanja mordomias. O caridoso Rei Ben (Mitchell Hope) tem a ideia de trazer alguns pobres para as suas terras, porém descobre que a seleção de alguns, em detrimento de outros, pode despertar um problema social ainda maior. Seria a solução a ruptura de todos os muros e a comunhão entre diferentes classes sociais? Seriam os “malvados” apenas pessoas que não tiveram oportunidades na vida? A trama não vai longe a ponto de propor ideias politicamente ousadas, mas permite entrever um discurso social aberto aos desfavorecidos.

    Tudo isso fica em segundo plano diante das amizades e batalhas, das piadas com cachorros falantes – felizmente, um elemento discreto em cena – e da nova vilã, filha de Ursula. A talentosa Dove Cameron tem rendimento nitidamente superior aos colegas de elenco, brilhando tanto nos diálogos cômicos quanto nos silêncios dramáticos. No entanto, os demais atores cumprem com desempenho razoável os papéis magros destinados a cada um. Ortega conclui a trama com o número musical mais extravagante da franquia até o momento, bastante funcional e bem filmado. Criam-se ganchos, é claro, para Descendentes 3.

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