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    Com Amor, Van Gogh
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Com Amor, Van Gogh

    Investigando Van Gogh

    por Francisco Russo

    Poucos filmes representam uma declaração de amor tão intensa a um artista quanto Com Amor, Van Gogh. A começar pela forma como foi conceituado: estreando a técnica da animação a partir de pinturas a óleo, seguindo o mesmo estilo do próprio homenageado. Ou seja, mais do que contar sua história era necessário apresentá-la sob seu ponto de vista tão particular, que fez com que o pintor se tornasse cultuado após sua morte. O resultado, visualmente falando, é deslumbrante.

    Inspirada pelas mais de 400 pinturas que Van Gogh fez ao longo de oito anos, a animação revisita locais e personagens recorrentes de seu portfolio para construir uma investigação que, além de contar a história do pintor, esmiuça o mistério acerca de sua morte. Teria sido mesmo suicídio ou alguém seria o responsável? A resposta é apresentada a partir da viagem de Armand Roulin à cidade francesa de Arles, um ano após o falecimento de Van Gogh, com o objetivo de entregar à sua família uma carta perdida do pintor, endereçada ao irmão, Theo. Cada vez mais obcecado, Roulin inicia então uma investigação pessoal em torno dos conhecidos de Van Gogh para decifrar o que realmente aconteceu.

    Tal narrativa, no fim das contas, serve mais para ambientar como era a vida do pintor, e suas aflições, do que propriamente para desvendar qualquer mistério - cuja insistência torna-se massante, em determinado momento. O grande trunfo do longa-metragem é realmente a técnica de animação empregada, que consegue reproduzir a textura e a beleza das pinceladas de Van Gogh, no sentido de apresentar cenários e objetos cujos traços soam contínuos e permanentemente vivos. Além disto, são várias as referências aos seus quadros, do icônico Noite Estrelada, que serviu de inspiração para o cartaz de Meia Noite Em Paris, aos marcantes corvos, tão presentes na fase final de sua vida. Para quem conhece o acervo deixado pelo pintor, reconhecer na telona tais obras torna-se um deleite, não só visual mas também pela forma como são inseridas na narrativa.

    Tamanho esforço visual foi fruto de um trabalho de anos da equipe liderada pelos diretores Dorota Kobiela e Hugh Welchman, que precisaram adaptar a técnica da pintura a óleo para que pudesse ser aproveitada em uma animação. Ao todo, 125 pintores trabalharam em cerca de 65 mil frames, sendo que os atores que dão voz aos personagens também precisaram servir de modelo para os mesmos. Tal iniciativa fica explícita quando a animação focaliza melhor os rostos dos personagens, sendo possível reconhecer os traços de Saoirse Ronan e de Jerome Flynn, o Bronn da série Game of Thrones. O mesmo acontece com o restante do elenco, com tal esforço sendo ressaltado pouco antes dos créditos finais, em comparações entre os quadros e os atores caracterizados.

    Diante de tamanho esforço em retratar a obra de Van Gogh, a história apresentada fica em segundo plano. A trajetória do pintor, que apenas vendeu uma tela em vida e sobrevivia graças à ajuda do irmão, serve de pano de fundo para a tal investigação acerca de sua morte, que soa mais como desculpa para apresentar os vários personagens que povoaram suas obras. No fim das contas, o porquê de Van Gogh ter morrido torna-se menor do que a arte por ele produzida.

    De imenso impacto visual, Com Amor, Van Gogh é um filme que brilha pela proposta estética implementada, seja pela beleza das imagens ou pelo capricho na técnica de animação empregada. Por mais que sua trama não seja suficiente para sustentar o interesse por 95 minutos, ainda assim é uma experiência cinematográfica que merece ser conferida, especialmente por aqueles que apreciam, e conhecem, a obra do homenageado.

    Filme visto na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2017.

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