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    Assistência Domiciliar
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Assistência Domiciliar

    A cura pelo amor próprio

    por Bruno Carmelo

    Os primeiros quinze minutos desta comédia dramática são ótimos. A enfermeira Vlasta (Alena Mihulová), especializada no atendimento em domicílio, enfrenta todo o tipo de dificuldade para ajudar seus pacientes. Entre injeções, comprimidos e pomadas, ela tem que lidar com pessoas inconvenientes e mal-educadas. Mas o faz com bom humor, rindo da própria situação e disparando frases como “Deixa eu ver as úlceras de perna mais bonitas da cidade!”, em direção a uma senhora idosa.

    O jovem diretor Slávek Horák demonstra domínio do ritmo cômico, com cenas naturalistas, sem recursos fáceis para despertar o riso. Investe-se no humor patético e cartunesco: logo após fugir da janela quando um paciente a tranca no banheiro, Vlasta encontra-se na rua, e começa a chover. Com os olhos arregalados e expressão trágica, a heroína aceita a situação e caminha até a sua casa. Outras cenas do tipo, envolvendo cemitérios e pianos, também são bastante divertidas.

    É uma pena que a história mude radicalmente de rumo quando a enfermeira se descobre doente. Não basta estar doente, mas ela tem um câncer em estado tão avançado que lhe sobram poucos meses de vida. A reviravolta inverossímil abre os olhos da cética protagonista a alternativas de cura pelo calor das mãos, pelo amor próprio, pela meditação e pela urinoterapia (sim, beber a própria urina). O filme passa a atacar radicalmente a medicina tradicional: não se enxerga os tratamentos alternativos como complementares às pílulas e às cirurgias, e sim como ferramenta que dispensa toda a alopatia.

    Esse posicionamento pode soar irresponsável, mas trata-se da defesa pessoal do autor. O problema é que Assistência Domiciliar muda mais uma vez de ângulo: subitamente, Vlasta descobre que os tratamentos alternativos não bastam, contanto que ela não ame a si própria e não coloque o casamento nos eixos. A cura para o câncer metastático, portanto, depende da compreensão de si mesma. Em nenhum momento se fala em possível psicoterapia: o caminho deve ser feito por ela, sozinha. O filme passa por essas transformações com tiradas espirituosas, mas de modo brusco.

    Por fim, a obra tcheca não consegue esconder o teor de autoajuda. Todo o imbróglio envolvendo tipos de cura e crises pessoais serve para dizer ao espectador que, se não cuidar de seus próprios sentimentos, o corpo e a alma sofrerão. Ele o faz, como muitas pessoas que buscam convencer outras, pelo viés emocional e chantagista, ao invés da argumentação racional. Pelo menos, o discurso é embalado em cenas bem filmadas, de ritmo preciso, com personagens de fácil identificação. Assistência Domiciliar desce como um remédio pouco eficaz, mas de gosto agradável.

    Filme visto no 44º Festival de Cinema de Gramado, em agosto de 2016.

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