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    Stop
    Críticas AdoroCinema
    0,5
    Horrível
    Stop

    Desastre

    por Francisco Russo

    Kim Ki-duk é um cineasta peculiar, cujo cinema costuma girar em torno de paranoias, neuroses e todo tipo de transtorno psicológico. Também por isso, seus filmes não costumam ser fáceis: é comum, e às vezes necessário, que o espectador sinta-se incomodado com o que vê na tela. Seu novo trabalho vai neste sentido, só que com uma novidade: o diretor agora tem uma ideologia a vender. O que não chega a ser algo ruim, desde que seja apresentado de forma convincente e coerente. Não é o que acontece.

    Stop na verdade é um grande alerta sobre o perigo das usinas nucleares, tendo por base o acidente ocorrido em Fukushima, no Japão, em 2011. É a partir dele que um casal, que mora próximo à usina, passa a lidar com a dúvida existencial em torno do bebê em gestação que ela carrega: terá sido ele afetado pela radiação? Haverá alguma deformidade ao nascer? Perguntas difíceis que amplificam cada vez mais a paranoia que Kim Ki-Duk tanto gosta, sobre abortar ou não. O problema é que, em momento algum, o diretor está disposto a analisar a sério o assunto, preferindo investir fundo no lado conspiratório e até absurdo.

    A começar pela tal agência do governo que alerta sobre os riscos de deformidade no bebê. Por mais que haja a preocupação com o bem-estar da mãe, a forma bruta e autoritária com a qual o encarregado passa a tratá-la não apenas beira o risível, como joga por terra qualquer elemento de veracidade que a trama ainda tentava aparentar. É a deixa para que o casal protagonista assuma ares histéricos, abandonando de vez qualquer tentativa de conversa minimamente adulta. Kim Ki-Duk prefere tratá-los como crianças mimadas, repletas de vontades e desculpas esfarrapadas, ao invés de colocá-los diante dos reais questionamentos em torno do tema.

    Diante disto, Stop passa a trazer verdadeiras pérolas de ruindade. Das justificativas de que o acidente nada afetará o bebê porque “os japoneses são diferentes, não são como o pessoal de Chernobyl” até a ingênua tentativa de provar que está tudo bem a partir de fotos tiradas da paisagem – como se ninguém soubesse que a radiação é invisível e seus efeitos não são tão imediatos assim. O súbito aparecimento de uma grávida à beira do parto na área isolada, como se estivesse lutando contra zumbis ou seres do tipo, serve como uma bizarra justificativa para a inacreditável virada no roteiro envolvendo o casal protagonista. Tudo é tão inconsistente, tão fajuto, que não dá para levar a sério em momento algum.

    Só que, apesar do tom adotado, Kim Ki-Duk leva muito a sério todo o exibido. A prova é o epílogo surreal, que existe apenas para que o diretor possa reafirmar seu alerta sobre o perigo da existência de usinas nucleares, com ar professoral. O didatismo e a cretinice das legendas finais, com direito a lição de moral embutida, são a cereja do bolo neste desastre.

    Filme visto no 17º Festival do Rio, em outubro de 2015.

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