Coletivo anônimo
por Bruno CarmeloO projeto deste documentário é muito interessante: convocar cinco diretores para realizarem um curta-metragem sobre cada um dos Estados brasileiros banhados pelo rio São Francisco. A intenção, sugerida pelo subtítulo, é proporcionar um estudo de cunho social sobre o impacto do rio na vida dos moradores.
O resultado é heterogêneo, como se espera de qualquer filme episódico. Após um primeiro curta-metragem fraco, semelhante aos programas de televisão sobre a vida subaquática, dois curtas bons e ambiciosos elevam o nível cinematográfico, com enquadramentos cuidadosos e um olhar respeitoso aos moradores, suas crenças e atividades profissionais. O quarto filme remete a uma exposição escolar, e o último tenta ser solene e mítico em níveis quase cômicos. De modo geral, percebe-se como o rio está ligado à pluralidade religiosa destas pessoas, e como a agravante falta de peixes ameaça a sobrevivência das famílias compostas essencialmente por pescadores.
O maior problema de 5 Vezes Chico - O Velho e Sua Gente não se encontra na qualidade de algum episódio específico, mas na condução do conjunto. Por incrível que pareça, não são anunciados os autores de cada filme, nem durante a projeção, nem nos créditos finais. Após elencar os entrevistados de cada curta, o filme explica que a obra foi feita por Gustavo Spolidoro, Ana Rieper, Camilo Cavalcante, Eduardo Goldenstein e Eduardo Nunes – mas seria nesta ordem? Por que não associar explicitamente cada diretor à sua obra? Os curtas têm títulos, por acaso?
A busca por uma organicidade do projeto também faz com que a montagem elimine qualquer interrupção entre os curtas. Passa-se de um filme ao outro com um simples corte na edição, unindo histórias que não foram concebidas para continuar a conclusão alheia, e criando uma desorganização que prejudica muito a fruição de cada curta. Talvez a ideia fosse adotar, através da edição, a fluidez ininterrupta de um rio. Mas os filmes perdem seus autores, seus inícios, seus finais, seu tempo próprio e sua estrutura de montagem. Como quem faz salsichas, a montagem espreme matérias distintas numa massa compacta e impessoal.
Sobram imagens belas aqui e acolá, algumas narrações muito boas sobre a religião, sobre a precariedade econômica, sobre a percepção de isolamento em relação ao resto do país. Mas não existe nenhuma especificidade sobre cada Estado atravessado pelo rio São Francisco: todas as considerações sociológicas e políticas sobre o rio poderiam se passar em qualquer ponto do velho Chico – e mesmo em outros rios. Atinge-se um patamar de anonimato, de diluição. Um projeto de potencial tão específico, tão rico, perde-se na invisibilidade de seu discurso.
Filme visto no 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em setembro de 2015.