Quem é Florian?
por Bruno CarmeloEste documentário suíço acompanha a história extraordinária de Florian Burkhardt, jovem que conseguiu se tornar ator em Hollywood sem fazer cursos de atuação, se tornou um dos modelos mais cobiçados do mundo em menos de seis meses, desenvolveu pela primeira vez os vídeos pela Internet, criou as maiores festas eletrônicas da Europa e depois abandonou todo o contato com outras pessoas por sofrer de ataques de pânico. Este é um caso atípico, difícil de acreditar, e o diretor Marcel Gisler está interessado justamente nas incoerências e mentiras que cercam o personagem.
O filme é composto principalmente por depoimentos do próprio Florian. Ele conta seus casos rindo, debochando de si mesmo e dos vários agentes e empresários que acreditaram nele. Essas pessoas se mostram perplexas até hoje com as atitudes incompreensíveis e mudanças de temperamento da jovem estrela. Já os pais surgem em tela para demonstrar total desinteresse pelo filho e desprezo por sua carreira e sua homossexualidade. Florian é visto como fruto de uma má criação e de uma personalidade manipuladora e narcisista.
Felizmente, o cineasta possui senso crítico ao conversar com estes personagens. Ele aponta contradições e falhas nos discursos, e deixa suas próprias perguntas gravadas no áudio para que o espectador comprove os esforços de extrair alguma verdade. Como alguém se torna modelo do dia para a noite, depois abandona tudo e se descobre gênio da informática? Como uma vítima de crises de angústia pode criar a maior festa eletrônica do continente? O que levou Florian a abandonar todas essas carreiras, do dia para a noite?
É uma pena que a montagem não consiga imprimir um ritmo ágil a este fluxo de ideias. A edição apresenta bom tato para os desconfortos, os momentos de silêncio constrangedor, mas acaba entregando uma obra excessivamente longa, e um tanto episódica. Florian e seus colaboradores simplesmente descrevem a sucessão de episódios: o momento ator, o momento modelo, o momento DJ... Paira sobre a obra uma linearidade monótona, uma mecânica descritiva que desfila pelos capítulos sem dizer como um influenciou o outro, ou conduziu ao seguinte.
Gisler tampouco busca materiais de arquivo ou fotos que possam comprovar as teses apresentadas. Electroboy torna-se um cansativo “talking head”, no qual o espectador não possui nenhuma ferramenta para acreditar em cada versão. Tem-se a palavra de um contra a palavra de outro. Na falta de um ponto de vista definido e de um trabalho de pesquisa aprofundado, o filme funciona melhor como ficção do que como documentário.
Filme visto no 23º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2015.