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    O Maior Amor do Mundo
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    O Maior Amor do Mundo

    Golpe Baixo

    por Renato Hermsdorff

    Quantos não são os arranjos que dão conta de representar as mais variadas formas de amor da contemporaneidade? Há a mãe divorciada (que se dá bem com o ex-marido); a mãe do bebê fruto de uma relação inter-racial; de um amor de sexualidade não-convencional; tem claro, aquela conservadora, educada em outra época; a mãe insegura; a progenitora ausente; e até mesmo o pai que é mãe.

    A ideia de contemplar toda essa complexidade, portanto, é um ponto, em princípio, positivo na construção deste O Maior Amor do Mundo – ou Mother's Day (Dia das Mães), no original. Mas a julgar pelo que Garry Marshall já havia feito com outros “feriados” (são dele Idas e Vindas do Amor, de 2010, lançado no dia dos namorados; e Noite de Ano Novo, título autoexplicativo, de 2011), não chega a ser uma surpresa que o resultado é uma obra careta e oportunista.

    Primeiro porque, se a diversidade é bem-vinda, no que tange à concepção, a execução é tão rasa quanto possível. Ao mirar em todos, Marshall e sua equipe não atingem ninguém. E, claramente, a intenção não é emocionar a todo tipo de público, mas considerar que qualquer pessoa é um pagante de ingresso em potencial. Fora que o excesso de “momentos Kodak” ainda banaliza tanto a (potencial) emoção, quanto o clímax, em si.

    Depois, porque é uma produção “mentirosa”. Disfarçada de “contemporânea”, o que se vê por baixo dos panos é de um conservadorismo que se presta ao desserviço. A personagem de Jennifer Aniston, por exemplo (a tal mãe divorciada que se dá bem com o ex-marido) só se justifica no papel de "mulher de alguém". Ela se (des)equilibra entre a esperança de o ex a aceitar de volta e/ou (o que vier primeiro) o surgimento de um novo interesse amoroso, de forma quase que desesperada. Em tempos em que se discute o empoderamento da mulher, é, no mínimo, uma construção antiquada.

    Isso sem contar as falhas do roteiro. Com tanta frente aberta, não há tempo hábil (mesmo com quase duas horas de projeção) de fechar adequadamente os segmentos, e as soluções resultam grosseiras. Como alguém consegue esconder um filho já em idade para entrar para a pré-escola da própria mãe (no caso, a avó da criança) é um dos mistérios que envolve a historieta de Kate Hudson (da relação inter-racial). A jovem mãe insegura (Britt Robertson) foge do casamento por que... “eu não sei quem eu sou”?

    Nesse contexto, Julia Roberts parece ter aceitado o convite em retribuição (uma dívida eterna) a Garry Marshall que, responsável pelo comando de filmes como Uma Linda Mulher e Noiva em Fuga, contribuiu para a projeção da carreira (e da conta bancária) da atriz.

    Mas quem se importa? Marshall e sua equipe subestimam a inteligência do espectador por acreditarem que não se questiona a mensagem do filme (bonita, claro), que preconiza o amor de mãe, ou o amor incondicional. É a ideia de que, de olhos marejados, o público não consiga discernir o chão onde pisa. Golpe baixo. Que não se ponha em cheque o sentimento. O que está na berlinda aqui é uma obra cinematográfica. E, essa, melosa e abraçada a todo tipo de clichê, pouco ou nada está interessada no verdadeiro sentimento. É sua carteira que eles amam.

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