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    Loving
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Loving

    Um grito em silêncio

    por Lucas Salgado

    Os movimentos de direitos civis da população negra nos Estados Unidos nas décadas de 50 e 60 já renderam inúmeros filmes de sucesso, com destaque para obras como Selma - Uma Luta pela IgualdadeMalcolm X. Geralmente, são centrados em figuras conhecidas como Rosa Parks, Martin Luther King ou Malcolm X.

    Loving trata do mesmo tema, mas de forma bem diferente. Não há muito espaço para discurso. O que há é muita delicadeza e sutileza para abordar a história de vida de uma família, os Loving.

    Richard Loving (Joel Edgerton) e Mildred (Ruth Negga) são um casal apaixonado que sonha em construir uma vida lado a lado. Eles vão até o estado vizinho para se casarem, mas logo se deparam com um problema. O casamento interracial é proibido no estado em que vivem, a Virgínia. Eles acabam presos e obrigados a deixar a região. Acabam afastados de suas famílias e obrigados a viver numa área urbana e não no campo, onde sonhavam em criar seus filhos.

    Ao contrário do que acontece nas obras citadas, que são ótimas, aqui o que importa não é literalmente mostrar as personagens levantando bandeiras. Ao mostrar o quão injusta é a situação, o filme, de certa forma, transmite de forma natural esta mensagem. Ou seja, Loving é sim um filme que levanta bandeiras, mas o faz de forma não convencional.

    Richard e Mildred conhecem advogados que querem ajudá-los e pensam até em levar o caso para a Suprema Corte Americana, mas o casal em si só quer ter o direito de viver junto no local em que desejam. Parece pouco, não é mesmo? Mas infelizmente, até 50 anos atrás, não era assim nos Estados Unidos. Num momento em que o mundo, e o Brasil, ruma para o conservadorismo e que toda defesa de liberdade é tratada como mimimi, é importante um filme que nos lembra que tudo o que todo mundo quer, no fundo, é ser feliz, da forma que bem escolher, na companhia de quem quiser. Não deveria ser tão difícil. 

    No longa, o debate jurídico está em segundo plano. O que está em foco mesmo é o debate humano. Neste sentido, a passividade de Richard só reforça a injustiça. Não faz sentido na cabeça dele que ele não possa viver com sua esposa em seu estado. Porque não faz sentido mesmo. Joel Edgerton entrega aquela que talvez seja a melhor atuação de sua carreira.

    Mas quem rouba a cena mesmo é Ruth Negga, que constrói uma personagem complexa e determinada, e que é responsável por sempre colocar a família em rumo diante da inércia do marido. 

    Filme visto durante a cobertura do Festival do Rio, em outubro de 2016.

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