Minha conta
    Animais Noturnos
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Animais Noturnos

    Mais conteúdo, para além da forma

    por Renato Hermsdorff

    Desde Direito de Amar, Tom Ford está mais maduro. Não só porque lá se vão sete anos desde que o estilista estreou na direção, mas porque ele agora põe o pé no freio nos maneirismos estilísticos, e dá conta de contar uma história sem a falsa pretensão intelectual do seu longa anterior, com este Animais Noturnos.

    Como um profissional da moda, não é que ele tenha desistido de caprichar na composição estética da imagem. A abertura, sobretudo, do novo filme impressiona pelo deleite visual, que traz mulheres nuas e gordas dançando para a câmera como cheerleaders. Seria só um (mais um) exibicionismo, não houvesse contexto. Mas as senhoras estão ali para introduzir a personagem de Amy Adams, uma comerciante de arte.

    São muitas as camadas da obra, que explora a intersecção de três histórias. Baseado (mais uma vez) em um romance contemporâneo – dessa vez, “Tony and Susan”, de Austin Wright – Nocturnal relata um momento específico da vida de Susan (Adams). Rica, infeliz no casamento com Walker (Armie Hammer), que a trata com indiferença, um belo dia, do nada, ela recebe a primeira prova de um livro, escrito pelo ex-marido, Edward (Jake Gyllenhaal).

    Intitulada “Nocturnal Animals”, a novela narra a história de um homem comum (interpretado também por Gyllenhaal) que, numa viagem de férias com a mulher e a filha, é interceptado por uma gangue de bullies (liderados por Ray, personagem de Aaron Taylor-Johnson) – um episódio que não resulta em um final feliz. O livro é dedicado a Susan que, enquanto o lê, repassa, em retrospecto, a vida com o ex-parceiro (a terceira linha narrativa das tramas paralelas).

    Para ser honesto, a história dentro da história é o que de mais envolvente o filme traz. Um thriller psicológico construído com um convincente clima de tensão. Para completar, o segmento ainda conta com uma boa performance de Taylor-Johnson e um excelente trabalho de Michael Shannon. Magro que só, o General Zod de O Homem de Aço vive um policial doente, responsável pela investigação do caso. Sem perspectiva de viver muito, a ele cabem as falas mais diretas e contundentes, que caem bem na embocadura de Shannon.

    Enquanto Jake tem uma performance de Oscar (dá para tirar pelo menos uns três clipes dali, para os organizadores usarem na cerimônia), Amy Adams brilha, mas com menos espaço do que seria de se supor para a protagonista.

    Se há uma clara melhora no trabalho de Ford como diretor (preste atenção no preciosismo das transições entre as cenas), como roteirista ele ainda precisa melhor os diálogos. Muitos, principalmente no início do filme, que se prestam a introduzir a situação de abandono matrimonial da protagonista, são duros demais, quase risíveis – (falta de) qualidade do texto que é compensada pelo discurso conservador da mãe de Susan, numa marcante – e hilária – participação de Laura Linney. Há mais humor - e menos choro - no cinema de Tom Ford, agora com mais sustância.

    Filme visto no 41º Toronto International Film Festival, em setembro de 2016.

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    • Pedro
      que corresponde em paralelo a ele ter disparato contra o assassino da sua mulher e filha.. foi ele libertar se do personagem fraco
    • Jackson A L
      Uma narrativa que é preciso estar atento aos mínimos detalhes, qualquer piscada pode ser um ato importante perdido. Fotografia perfeita, assim como atuações, principalmente Jake Gyllenhaal. O desfecho é tão interessante que nos coloca a raciocinar os acontecimentos para ver o que poderia ter passado batido!!
    • Antonio C.
      No meio do filme aparece, na galeria um quadro só com a palavra REVENGE - Vingança bem grande. A Susan nem lembrava do quadro. Mas significa todo o motivo de Edward em mandar o livro e em não ir ao encontro marcado no restaurante.
    • Antonio C.
      REVENGE - VINGANÇA
    • Antonio Castello Branco
      O que ele matou foi a figura frágil, sensível', às vezes covarde. Por isso não apareceu no encontro.
    • Ricardo M
      Excelente crítica. Obrigado.
    • PH Franco
      Eram 3 caras..... A Vaidade, a Luxúria e a Avareza... O deixaram sozinho no meio do nada.... e mataram a sua esposa e filha... O primeiro à morrer (quem nem aparece morrendo...) foi a vaidade.... Depois foi a avareza.... e por último a luxúria... E por fim... o amor dele por ela. Filme muito inteligente.
    • PH Franco
      Excelente percepção....
    • Vitor Almeida
      A cena final, quando ela se veste de verde com um belo decote, ou seja, mostrando esperança, e o frame dos tristes olhos azuis no final, fala sério! Que filme! É uma obra intimista, os diálogos falam menos que as expressões, e apesar dos demais personagens, é um mergulho no universo da protagonista, o ponto de vista é o dela, é como um choque brusco com a realidade interior e a aparência exterior, ela tem tudo, mas vive como se tivesse nada. É o grito de uma alma, É um abrir das cortinas, uma visita aos porões do coração, numa alta sociedade de aparência, falsa, no qual a protagonista sucumbe a vida dos pais, perdendo a inocência, a pureza, a vida fresca e criativa, representada pelo primeiro marido e o primeiro filho. Alguns detalhes que enriquecem: ela é dona de galeria de arte, a cena das mulheres gordas pulando, divertindo, é representação da superfície, da primeira camada de vida dela. Ela aborta de um filho, mas quem morre no livro é uma filha, o relacionamento dela com a filha é sufocado, distante e frio. O irmão não é mais citado, ela se torna como a mão. E como foi dito ai, a vingança não é de ela ficar esperando.. é o confronto com a verdade: ela esta sozinha.
    • Guilherme A. Schorr
      Interessante essa ideia sobre a possibilidade de ter se matado, não tinha pensado nisso.
    • sibelle amery
      Sabe que tive a mesma impressão, porem no final, fiquei na duvida se ele não apareceu para o jantar pq se matou ou apenas para puni-la.
    • Rafael
      Esperei muito tempo pra ver o filme e nem sabia do que ele tratava. Que surpresa agradável. Que bacana ver um a adaptação de roteiro em hipertexto. O resultado é um filme sensacional. Uma hipermídia super bem feita, densa, cheia de detalhes e metáforas bem pensadas. Sem contar o suspense que é até irritante, mas são efeitos da sua belíssima direção. Parabéns pela crítica, apesar deu não achar que os diálogos comprometem a produção em nenhum momento.
    • Guilherme A. Schorr
      Para mim a família dele nunca existiu. Simplesmente ele quis mostrar que ela matou a filha, matou a possibilidade de ele a ter e assim o matou também (por dentro). A história do livro é apenas uma ilustração da realidade, escreveu para que ela sentisse e entendesse um pouco da dor que sentiu ao longo dos anos.
    • Jota De
      precisei voltar correndo para Casa comigo? e Arrival depois desse filme para recompor uma imagem centrada da Amy Adams... rssssss
    • Karina Silva
      Amei seu comentário! Falou tudo que eu penso!!!!
    • Alessandra R.
      O q estava escrito .... não lembro....
    • Alessandra R.
      Amei sua crítica ! Foi objetiva w sensacional !!!!
    Back to Top