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    Para o Outro Lado
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Para o Outro Lado

    Caminhando entre os vivos

    por Francisco Russo

    Não é de hoje que o cinema japonês lida com o sobrenatural, seja em filmes de terror do porte da série Ringu (posteriormente refilmada como O Chamado) ou em dramas onde os espíritos não necessariamente sejam malignos. Para o Outro Lado encaixa-se neste segundo caso. O que surpreende de fato é como tal universo é enquadrado dentro da narrativa: da forma mais corriqueira possível, como se não houvesse qualquer diferenciação entre mortos e vivos.

    É esta a bela sacada de Kazumi Yumoto, autor do livro no qual o filme é baseado, que norteia boa parte do longa-metragem. Muito devido à estranheza natural que o espectador sente ao ver um homem, desaparecido há três anos, retornar para sua casa e contar à esposa que está morto. Mas ele está lá, pode ser tocado e interagir com as pessoas, como qualquer ser humano vivo. É na construção deste universo sem signos pré-estabelecidos que se baseia a narrativa, por vezes provocando e em outras oferecendo migalhas sobre seu funcionamento. O convite feito pelo marido para que a esposa conheça as pessoas com quem conviveu é também direcionado ao público, para que embarque nesta viagem em busca de respostas – qualquer resposta.

    A proposta funciona, em parte. Com um ritmo bastante lento, Para o Outro Lado segue de forma paulatina sua turnê pelos conhecidos de Yusuke (o marido) mas, em muitos casos, eles pouco acrescentam à trama como um todo. Por mais que cada um deles tenha sua importância para que Mizuki (a esposa) entenda melhor a situação, ainda assim fica a impressão de que o roteiro empaca em certos trechos. O oposto acontece já perto do final, quando várias informações vêm à tona de forma repentina, dificultando a rápida assimilação pelo espectador.

    A saída – ou uma possível saída – está nas curiosas aulas ministradas por Yusuke para uma pequena multidão na cidade onde viveu por tantos anos. Ambas envolvem temas complexos, com leis da física e a existência do universo, mas o objetivo principal está na tentativa de mostrar, cientificamente, que o sem sentido é diferente do não existir. Assim é a realidade entre mortos e vivos em Para o Outro Lado, algo que deve ser aceito sem muitas interrogações. O fato de por vezes soar estranho ou sem sentido não significa que não seja plausível, graças aos mistérios da existência da vida. Esta é a mensagem que o filme assume para si.

    Aceitá-la ou não, depende da boa vontade do espectador. A ausência de mais detalhes pode soar tanto fascinante, no sentido do mistério a ser decifrado, quanto frustrante, pela ausência de dados complementares. Para dificultar ainda mais a proposta, Para o Outro Lado possui uma direção convencional e minimalista, além de uma trilha sonora invasiva e burocrática, que alterna os tons de forma óbvia entre o romance e o suspense. Ambos não ajudam.

    No fim das contas, Para o Outro Lado é um filme mais interessante pelo que propõe do que propriamente pelo que entrega ao espectador. Ainda assim, é um olhar que chama a atenção pela forma serena com a qual a morte, e os mortos, são tratados. Trata-se de um traço da cultura nipônica que, por mais que latinos como nós tenhamos uma certa dificuldade de compreensão, se destaca justamente pela diversidade representada.

    Filme visto na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2015.

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