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    Táxi Teerã
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Táxi Teerã

    Irã, país absurdo

    por Bruno Carmelo

    Em uma época de crescentes discussões sobre a censura, o diretor iraniano Jafar Panahi representa um desses grandes artistas capazes de usar as restrições como motor criativo. Não que a censura imposta pelo governo iraniano seja boa por “estimular” a arte, longe disso. Mas Panahi consegue criar esquemas narrativos e temáticos que reflitam justamente a sua proibição. Depois de dois filmes sérios, em forma de manifesto, agora o diretor – que ganhou o direito de sair de sua casa – ousa retratar a própria situação com humor, no inesperado Taxi.

    Em uma estrutura que remete ao também iraniano Dez, de Abbas Kiarostami, Panahi instala duas câmeras dentro de seu carro, improvisa-se motorista e começa a conduzir passageiros pelas ruas do Teerã. O início sugere um documentário, com a câmera voltada para a rua à frente, enquanto as pessoas dentro do carro discutem sobre o caminho ou sobre fatos cotidianos.

    Logo, a mecânica torna-se mais complexa, quando algumas cenas são exemplares demais para serem documentais: um homem e uma mulher começam a brigar, usando argumentos divertidos sobre a validade da pena de morte. Outro passageiro, um vendedor de produtos piratas, reconhece Panahi e começa a falar sobre cinema alternativo. Mas o vendedor questiona: os passageiros que estavam aqui antes eram atores, não é? Taxi começa a se assumir como falso documentário, apresentando uma decupagem cada vez mais rebuscada e uma sequência de personagens surreais, que jamais poderiam ter passado em sequência pelo mesmo veículo. Até um atropelamento, com o passageiro à beira da morte, transforma-se em um inusitado momento cômico.

    O ritmo torna-se um pouco menos interessante na segunda metade, quando o cineasta para de conduzir anônimos para levar amigos e uma sobrinha. Como estes personagens conhecem o personagem-Panahi, este torna-se o momento usado para falar de assuntos pessoais, em frases contundentes, mas um tanto artificiais. A sobrinha do motorista, por exemplo, ocupa um espaço importante da narrativa. A atriz mirim é excelente, mas o seu conflito (ela está preocupada em fazer um filme que tenha distribuição comercial, aos 8 anos de idade) é mais condizente com o discurso que Panahi pretende proferir do que com o universo diegético de uma criança.

    Mesmo assim, a obra é curta, de ritmo ágil, transparecendo um refinamento na montagem que não remete a uma obra caseira feita por um diretor preso, filmando às escondidas. Taxi é um filme belo e inteligente, coroado por uma poderosa cena final, que diz muito sobre o direito de se expressar.

    Filme visto no 65º festival de Berlim, em fevereiro de 2015.

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