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    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
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    Bulimia, morte e outras diversões

    por Bruno Carmelo

    Dois policiais encontram um homem enforcado em uma árvore. Eles cortam a corda, o corpo se espatifa no chão. Quando viram as costas para a cena do acidente, discutindo procedimentos legais, o suposto suicida se levanta, arranca a corda do pescoço e vai embora. Este é o começo de Body, estranha comédia de humor negro dirigida pela polonesa Malgorzata Szumowska.

    Existem três personagens principais, todos intimamente ligados a conflitos com o corpo: Olga (Justyna Suwala), uma adolescente bulímica que acaba de perder a mãe, seu pai (Janusz Gajos), um perito criminal responsável por relatórios de cenas de crimes, e a terapeuta Anna (Maja Ostaszewska), que mistura técnicas corporais e misticismo, além de ser traumatizada pela morte do próprio bebê.

    Os três são interessantes, mas fazem de Body um filme demonstrativo demais, como se fossem meros exemplos de problemas corporais. Assim como Homens, Mulheres e Filhos, que distribuía entre todos os personagens conflitos ligados à tecnologia, ou Traffic, no qual todos estavam ligados à questão das drogas, este filme polonês também parece didático pela tentativa de representar seu conflito central como um catálogo de diferentes disfunções.

    A história é construída em um tom cômico nunca aprofundado. O humor, ao invés de causar estranhamento (e, portanto, reflexão), apenas serve a criar situações de assimetria: um cachorro grande demais em um apartamento pequeno, a comida salgada misturada com comida doce dentro de um liquidificador, o grito fraco de uma garota contra o grito forte da colega logo ao lado. Este é o típico humor de situações, atemporal, que contribui mais ao tom do que ao contexto.

    Talvez o problema maior de Body encontre-se na ausência de discurso. O que Szumowska quer dizer a respeito desses problemas? Qual ideia o filme veicula sobre a morte, a bulimia, a gravidez e outras questões? É difícil perceber o que motivou a cineasta a realizar esta mistura de comédia e drama, com tal estrutura. Não existe crítica, nem afeto pelos personagens, apenas uma ampla constatação de que estas dificuldades existem.

    Mesmo assim, a diretora demonstra bom domínio na construção de imagens, e faz ótimo uso da montagem. As elipses são bem construídas, através de cortes secos, e de imagens de curta duração, em enquadramentos fixos minuciosamente compostos. As histórias se sucedem como esquetes, cujo humor de situações é obtido menos pelo roteiro do que pela própria estética – algo que nem todos os cineastas conseguem produzir.

    As atuações também são dignas de nota. Gajos está ótimo como o pai pouco afetuoso, já Ostaszewska se destaca no papel da mulher frágil, que tenta exibir força quando confrontada aos pacientes. Ambos atores compreendem muito bem este humor curioso, feito de meios sorrisos, de pequenas insinuações. Neste sentido, a cena final é uma pequena pérola, revelando otimismo (finalmente, a narrativa adota um ponto de vista!) e conseguindo relacionar de maneira poética a trajetória dos três.

    Filme visto no 65º festival de Berlim, em fevereiro de 2015.

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    Comentários

    • Cezzar
      Muito bonito sua fala , mas não entendi nada do que tu falaste
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