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    Jia Zhangke, um Homem de Fenyang
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Jia Zhangke, um Homem de Fenyang

    Um belo retrato

    por Lucas Salgado

    Responsável pelos premiados Em Busca da VidaUm Toque de PecadoJia Zhang-ke é um cineasta pouco conhecido pelo grande público. Seus filmes, na maioria das vezes, ficam restritos ao circuito de festivais, sendo que vários deles não foram exibidos comercialmente no Brasil.

    Agora, o cinéfilo ganha a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra deste diretor através das mãos de outro cultuado cineasta. Nome por trás de Central do BrasilDiários de MotocicletaNa Estrada, o brasileiro Walter Salles assumiu a responsabilidade de dirigir o documentário Jia Zhangke, um Homem de Fenyang.

    Durante a primeira exibição na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2014, Salles destacou que o filme é "uma homenagem de um cinéfilo apaixonado". Isso está claro no filme, que é muito eficaz ao transmitir emoções e analisar a filmografia e a vida de seu objeto de estudo. Jia Zhang-ke abre as portas de sua história e resgata seu passado. Ele é o fio condutor da obra, não só através dos trechos de seus filmes mas principalmente por suas entrevistas. 

    Uma câmera na mão acompanha Jia pelas ruas de sua cidade natal, onde ele visita sua antiga casa e as ruas e pessoas que marcaram sua infância. De forma elegante, Walter Salles investe em uma série de excelentes transições entre o depoimento do cineasta e as cenas de seus filmes. Em alguns momentos, temos a transição direta em que vemos o mesmo ambiente nos longas e na atualidade.

    Para quem só conhece os últimos filmes de Zhang-ke, o documentário irá despertar o interesse no restante da filmografia do diretor chinês, relembrando vários momentos marcantes de suas obras. O longa de Salles debate a importância da trilha sonora nos filmes e ainda escuta atores que trabalharam com Jia, com destaque para Zhao Tao.

    Walter mostra que não é só seu irmão (João Moreira Salles, de EntreatosSantiago) que possui talento para o documentário. Ele entra de cabeça no universo de Zhang-ke, realizando um filme todo falado em mandarim ou no dialeto da província de Shanxi, onde fica Fenyang. Em um dos momentos mais interessantes do longa, Jia fala sobre o fato das campanhas publicitárias serem as mesmas em todos os lugares do mundo e questiona se a ideia de globalização não seria uma mera americanização do mundo. Fizesse o filme em inglês, Salles poderia interagir mais com seu entrevistado ou alcançar um público maior, mas o cinema de Zhang-ke nunca foi para o grande público e continuará assim.

    O grande mérito de Jia Zhangke, um Homem de Fenyang é conseguir tratar do Zhang-ke cineasta e também do homem. Temos momentos muito pessoais do diretor, como o relato da relação com o pai. Ele chega a se emocionar em cena, em um momento de genuíno sentimento, o que nem sempre o cinema consegue produzir.

    Filme assistido durante a cobertura da Mostra de São Paulo, em outubro de 2014.

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