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    A Bailarina
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    A Bailarina

    Belle Époque

    por Rodrigo Torres

    França, século 19. Fim do século 19. "Belle Époque". Situar A Bailarina em tempo e espaço quase que prioritariamente, como tantas sinopses do filme internet afora, vai bem além da contextualização pura e simples. É a síntese de seu principal elemento, do que caracteriza a animação de Eric Summer e Éric Warin como uma produção particular na indústria e faz até suas limitações visuais serem distintivas em relação às principais obras do gênero, dominado comercialmente pelos estúdios Disney e Pixar. A cereja do bolo.

    Sob o olhar fascinado de Félicie Milliner, a menina órfã que sonha em se tornar bailarina, conhecemos a Paris de 1880: uma cidade ainda vazia, porém efervescente, em plena transformação — urbana, cultural, social; total. Victor, o amigo de Félicie que constrói geringonças voadoras para auxiliá-la nas fugas, é, inteligentemente, um inventor. Desse modo, o menino que vem a ser funcionário de Gustave Eiffel personifica, com singeleza, o marco do progresso tecnológico no mundo moderno que foi a Belle Époque, revolucionando a comunicação e os transportes, impulsionando a arquitetura e as artes.

    Assim, se a Estátua da Liberdade prestes a ser presenteada aos Estados Unidos e uma Torre Eiffel em construção representam um período histórico e também funcionam como ótimos cenários de ação dos protagonistas, as cenas externas da Cidade Luz remontam sutilmente à pintura impressionista. Até a definição da animação franco-canadense, sem o grau de nitidez das produções multimilionárias de Hollywood, mostra-se eficiente, pois realça as características do célebre movimento artístico dessa bela época.

    Diante de tal capacidade de encontrar boas resoluções visuais e narrativas para emular um tempo e seus ícones, é frustrante que a trama de A Bailarina seja tão simplória. A história de superação de Félicie segue o modelo mais formulaico possível: para conseguir o papel de Clara na ópera O Quebra-Nozes, ela terá de bater suas concorrentes uma a uma num processo de eliminação tão previsível quanto enfadonho. A mesma falta de inventividade se aplica ao melodrama do filme, a serviço das resoluções mais fáceis, de reviravoltas inconvincentes, de lições de moral pouco inspiradas. Outro subgênero marcante, o humor pastelão (slapstick) até confere carisma aos personagens, que são bobos mas condizentes com a ingenuidade e ternura que permeiam o longa animado.

    A Bailarina encontra um equilíbrio entre esses rompantes de criatividade e preguiça dos realizadores em suas músicas e coreografias — que, se não contêm o caráter revolucionário da Belle Époque, são moldadas à feição do amor ingênuo de Félicie pelo balé.

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