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    Argentina
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Argentina

    Viagem musical

    por Francisco Russo

    Carlos Saura é um diretor peculiar, que acredita em um tipo de cinema talvez único na atualidade. Ao invés de desenvolver narrativas, ele explora conceitos através de apresentações de dança e música. Assim foi com Tango, Fados, Ibéria, Salomé e assim é com Argentina, seu novo documentário/espetáculo onde, mais uma vez, envereda pelos ritmos portenhos. Desta vez deixando de lado o tango, já homenageado em um filme próprio na década de 1990.

    Disposto a vasculhar a musicalidade argentina, Saura dá oportunidade a vários cantores e grupos locais, representantes de ritmos como chamamé, malambo, chacarera, zamba e outros tantos. Por mais que seja impossível diferenciá-los para um leigo, chama a atenção a forma como todos utilizam instrumentos de corda, em seus variados estilos, e também a dramaticidade tão comum ao tango, que se manifesta através das expressões dos intérpretes. É o "sentir a música", como tão bem sabe a brasileiríssima Maria Bethânia.

    Nesta nova investigação musical, o diretor apela aos seus já conhecidos elementos cênicos: enormes painéis, que servem tanto para a exibição de imagens quanto das sombras dos próprios músicos e dançarinos, e espelhos para captar os movimentos em diferentes ângulos. Tudo instalado em um galpão localizado em La Boca, bairro emblemático de Buenos Aires, o que tanto facilita a produção quanto dá uma certa autenticidade ao projeto como um todo. Por mais que não seja possível identificar o local dentro da instalação, a proximidade com os vários estilos musicais com certeza auxiliou a pesquisa e a própria apresentação dos músicos.

    No mais, Argentina é um imenso espetáculo de música, dança e sapateado. Com homenagens a Mercedes Sosa e Atahualpa Yutanqui, o longa-metragem surpreende com apresentações inusitadas, como o músico que usa as cordas do piano como bateria, e valoriza bastante o lado visual - as típicas boleadeiras não poderiam ficar de fora, é claro. Se não possui o mesmo impacto de trabalhos anteriores do próprio diretor, como Tango e Salomé, ainda assim trata-se de um filme interessante, que merece ser visto especialmente por quem curte este estilo de cinema, mais focado no lado estético do que na narrativa.

    Filme visto no 17º Festival do Rio, em outubro de 2015.

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