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    Jogo da Memória
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    Jogo da Memória

    A mulher que não estava lá

    por Bruno Carmelo

    Jogo da Memória se abre... com um jogo da memória. A protagonista e narradora informa ao espectador como funciona o jogo, e revela que “os viciados no jogo são bons em relembrar fatos do passado”, ou algo do tipo, e que também “são bons em esquecer o que não lhes interessa”. Tamanha profundidade psicológica e filosófica é a marca desta mistura entre drama e suspense, dirigida por Jimi Figueiredo.

    A premissa indica que a modelo Karine (Simônia Queiroz) retorna à cidade natal para resolver questões de herança, e se informar sobre a filha que abandonou há doze anos. Mas este conflito potencialmente doloroso é diluído na tela por um roteiro desastroso. A trama inclui uma série de quiproquós inverossímeis envolvendo bonecas Barbie, potes de jujuba, chaves convenientemente deixadas do lado de fora da porta e outros elementos que despertaram risos na sala de cinema. Isso sem falar na presença de personagens e conflitos sem função narrativa alguma, como o novo namorado de Karine (interpretado por Flávio Tolezani) e sua relação com a indústria farmacêutica.

    A sinopse oficial também indica que Karine começa a adentrar a loucura, mas ganha um brinde o espectador que enxergar qualquer transformação interior nesta mulher fantasma. Simônia Queiroz revela-se uma atriz limitadíssima, incapaz de transmitir nuances com a voz, com o rosto ou com o corpo. Durante todo o filme, ela passeia por corredores e quartos, com a mesma expressão ausente, como se estivesse simplesmente muito cansada, precisando de uma boa noite de sono. Seria por isso que o diretor evita a todo preço se aproximar de seu rosto, preferindo enquadramentos de corpo inteiro? Ao lado desta atriz, os coadjuvantes Vivianne Pasmanter, Sérgio Sartório e a atriz mirim Laura Teles Figueiredo se saem melhor em seus papéis.

    A direção também é marcada por um triste amadorismo. Figueiredo opta uma mise en scène preguiçosa, geralmente colocando sua câmera sobre um tripé dentro de cada cômodo, de modo a enquadrar o máximo possível do local, e deixando os seus personagens se virarem como puderem dentro deste único plano. As raras tentativas de inovação (o suposto delírio com Barbies, a câmera colocada entre as pernas de Vivianne Pasmanter) beiram o constrangimento. Os outros aspectos técnicos também decepcionam, especialmente a fotografia, extremamente nítida, contrastada e superexposta, mais adequada a um consultório de dentista do que a uma residência. E o que dizer da direção de arte da suposta loja de antiguidades comandada por Dalton Vigh?

    Para não dizer que tudo em Jogo da Memória é decepcionante, pode-se citar o trabalho competente de captação de som direto, que embora não inove, pelo menos apresenta maior profissionalismo que os outros aspectos técnicos. Mas, no final, o conjunto é realmente lamentável, demonstrando uma falta de refinamento na linguagem cinematográfica digna dos cineastas mais despreparados – o que Jimi Figueiredo, do premiado Cru (2011), certamente não é.

    Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em setembro de 2014.

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