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    Maze Runner: Prova de Fogo
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Maze Runner: Prova de Fogo

    O mundo é cruel

    por Bruno Carmelo

    “O labirinto era apenas o começo”. Dessa vez a campanha de marketing não está exagerando: enquanto Maze Runner - Correr ou Morrer trazia um único cenário e um obstáculo preciso (superar o labirinto), agora Thomas, Teresa, Minho e os outros jovens devem combater um número infinito de perigos mortais. Quando escapam dos cientistas, devem sobreviver à travessia no deserto, quando passam por essa etapa, devem lidar com zumbis, depois com rebeldes, depois uma tempestade de raios que parece especificamente destinada a eles. Todas as pessoas, seres e máquinas ao redor querem matá-los; todo galpão que poderia abrigar o grupo esconde novas armadilhas. O mundo é mesmo cruel.

    Neste contexto, Maze Runner: Prova de Fogo expande consideravelmente o seu universo para se transformar em um grande filme de ação, com muitos efeitos especiais combinados às regras de outros gêneros (os filmes de zumbis, os filmes pós-apocalípticos, os filmes catástrofe, as aventuras adolescentes). Esta produção conta com um orçamento maior, e também com ambições mais amplas, visando seduzir o público adulto que compraria ingressos para assistir a Bruce Willis ou Liam Neeson nos cinemas. O resultado é ágil e tecnicamente impressionante, no entanto, na vontade de agradar a todo mundo, talvez não se aprofunde em gênero nenhum.

    A grande diferença deste segundo filme é o seu caráter episódico, que aproxima a trama de um videogame sádico. Supondo que o público já conhece os personagens, a ação desenvolve-se sem freios, trazendo cada novo trecho com seu cenário, seus personagens, o seu “vilão” a superar, como nas fases de um jogo. Vencendo aquele perigo, os jovens estão prontos para correr até a cilada seguinte. Talvez falte um senso de propósito a este road movie frenético: onde os personagens realmente pretendem ir, se nada ao redor é digno de confiança? Entre os mundos pós-apocalípticos dos livros infatojuvenis, nenhum é tão amargo e niilista quanto o de Maze Runner.

    Thomas (Dylan O’Brien) continua liderando o grupo com seu arsenal inesgotável de virtudes: ele é inteligente, caridoso, belo, amigo, corajoso, incansável, bola os melhores planos, corre como ninguém e jamais deixa alguém para trás. Mesmo que a pessoa em questão já tenha a morte certa, Thomas prefere arriscar a própria vida para acompanhar o moribundo. Como sempre toma as decisões certas, sem hesitações – ao contrário de Katniss ou Tris – o herói torna-se pouco interessante, um tanto superficial. Felizmente, O’Brien é um ator com recursos, trazendo algumas hesitações a este bastião da moral e dos bons costumes.

    Os outros atores jovens são igualmente talentosos. Um dos acertos da franquia foi apostar em nomes pouco conhecidos, mas com grande potencial, como Kaya Scodelario, Thomas Brodie-Sangster, além da excelente Rosa Salazar e do ambíguo Jacob Lofland. Enfrentando um grupo de vilões extremamente caricatos (Aidan Gillen e Patricia Clarkson, destilando fel em cada olhar), os coadjuvantes adolescentes ganham espaço para apresentar fragilidade e demonstrar a força dramática necessária à trama.

    De resto, Maze Runner: Prova de Fogo mantém alguns clichês presentes nas produções do gênero, incluindo Jogos Vorazes e Divergente. As pessoas bondosas são aquelas ligadas à natureza e ao coletivo, enquanto os vilões do governo são figuras altamente tecnológicas, urbanas e vestidas como grandes empresários. As minorias sociais e étnicas continuam tendo papéis acessórios: negros, indianos, asiáticos e crianças possuem menor importância na narrativa e vivem menos, enquanto os protagonistas belos, brancos e atléticos funcionam como modelos morais e físicos do herói à americana.

    Rumo ao final, a produção felizmente aponta para caminhos mais sombrios, com menções a sexo, drogas, lutas sangrentas e algumas decisões moralmente questionáveis. O público-alvo continua sendo o adolescente, mas é louvável a capacidade do diretor Wes Ball em sugerir ideias adultas dentro da censura PG-13. Os personagens se tornariam muito mais complexos se deixassem fluir suas pulsões adolescentes neste cenário extremista de guerra.

    Além disso, o anúncio do terceiro filme como uma “história de vingança” parece promissor. Se os roteiristas conseguirem criar uma história coesa e reduzirem o maniqueísmo, o terceiro Maze Runner pode de fato representar o ápice desta história. Afinal, a franquia discute temas importantíssimos, como a troca da liberdade pela segurança, o limite da intervenção da ciência na natureza e o papel do Estado único em relação à vontade dos indivíduos. Só falta encontrar espaço para desenvolver todas essas ideias em meio a tanta correria.

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