Bastidores de Brasília
por Francisco RussoO diretor Murilo Salles é um expoente do cinema brasileiro que, se não tem no currículo um sucesso do porte de Cidade de Deus e Tropa de Elite, conta com filmes bem interessantes, como Nome Próprio, Seja o que Deus Quiser! e Como Nascem os Anjos. Seu cinema sempre tem algo a dizer e o mesmo acontece com seu trabalho mais recente, O Fim e os Meios. Desta vez, o diretor pretende abordar como um sonho a ser atingido se transforma no meio do caminho, graças às perversões que o próprio cotidiano provoca, em dois ambientes espinhosos: a política e a imprensa.
Para tanto, Salles foca a história no publicitário Paulo (Pedro Brício) e na jornalista Cris (Cintia Rosa). Ambos acabam de ter uma filha, acidental, mas não mantém um relacionamento afetivo. Até que ele recebe uma proposta irrecusável: R$ 1,5 milhão para tocar a campanha eleitoral de um senador veterano (Emiliano Queiroz). Ele topa, ela vai junto e passa a cobrir o Palácio do Planalto. Estabelece-se uma dualidade: ele entranhado no mundo político, ela acompanhando o mesmo e tendo, por função profissional, o objetivo de desnudá-lo em suas matérias – até mesmo para que possa ascender na profissão.
Este olhar sobre os bastidores de Brasília é o que O Fim e os Meios oferece de mais interessante, por mostrar diferentes abordagens sobre o mesmo assunto e, também, as ligações perigosas que surgem a partir de tamanha aproximação. Além disto, chama a atenção o modo como a narrativa é conduzida, através de breves elipses que não revelam todo o ocorrido mas, ao mesmo tempo, jamais levantam dúvidas sobre o que aconteceu nesta fração de tempo ausente. Da mesma forma, a divisão em dois capítulos, “Os meios” e “O fim”, cria um certo mistério em torno da história. Por que Paulo vive como um fantasma, vagando escondido em um prédio?
Entretanto, tamanha habilidade no desenvolvimento da narrativa é bastante prejudicada pelos dois grandes problemas do filme: o elenco e os rumos do roteiro. Se Pedro Brício peca pela pouca expressividade, Cíntia Rosa se sai um pouco melhor mas, ainda assim, resvala para o caricato nas cenas em que sua personagem precisa demonstrar petulância e desejo sexual. O filme ainda traz o triângulo amoroso mais insólito dos últimos tempos, que, ainda por cima, desvia a atenção do que realmente interessa na trama: o conflito entre os interesses político com os do jornalismo. Quem consegue se salvar entre os atores é Marco Ricca, muito graças ao cinismo de seu personagem, enquanto que Hermila Guedes tem uma participação pequena e apática, muito pelas características de sua personagem.
Por mais que seja um filme ambicioso e que inicie muito bem, apesar da questão dos atores principais ser nítida logo de cara, O Fim e os Meios termina de forma melancólica, capengando graças às escolhas de Salles como roteirista. Nem mesmo a tentativa de mandar um recado sobre os bastidores de Brasília ameniza os rumos inusitados – e bizarros – entregues pela metade final.
Filme visto no Festival do Rio, em setembro de 2014.