O quarto de Michelle
por Lucas SalgadoLançado em 2008, Cloverfield - Monstro não foi o primeiro found footage a chegar aos cinemas. A Bruxa de Blair já havia revolucionado o formato quase dez anos antes. Mas o filme dirigido por Matt Reeves e escrito por Drew Goddard marcou o gênero ao criar um falso documentário com monstros. Com apenas 81 minutos, os realizadores conseguiram criar uma obra tensa, envolvente e muito original.
Desde então, o produtor J.J. Abrams sempre foi perguntado sobre uma possível continuação, mas nunca se mostrou muito otimista com relação a produção da mesma. Por causa disso, o mundo do cinema foi pego de surpresa em janeiro de 2016, com a divulgação do primeiro trailer de Rua Cloverfield, 10. Até então, poucas pessoas sabiam que um novo Cloverfield estava no forno. Nem mesmo os atores do longa sabiam. Durante a produção, o filme recebeu os títulos de The Cellar e Valencia.
Agora, o filme chega aos cinemas mundiais e promete agradar aos fãs do original. Mas... Não é necessariamente uma sequência. Tecnicamente, também é muito diferente. Não é um found footage e a câmera na mão não é a principal forma de filmagem. Não há personagens ou mesmo monstros do original.
J.J. Abrams e o diretor estreante Dan Trachtenberg argumentam que o universo é o mesmo do primeiro filme e quem procurar pode até encontrar um easter egg aqui acolá. O que importa é que o novo longa é semelhante ao anterior em dois sentidos: originalidade e qualidade.
Se o primeiro era realmente um filme de monstros, aqui estamos diante de um thriller psicológico. Sai a luta para sobreviver e ajudar a namorada, entra a necessidade por respostas.
Após sofrer um acidente de carro, Michelle acorda em um quarto trancado e que possui apenas um colchão no chão. Desesperada, ela logo recebe a visita de Howard, um senhor muito intenso e ameaçador, que a informa que o mundo como conhece não existe mais e que eles estão seguros dentro de seu bunker. A garota, embora sempre desconfortável, vai aceitando a ideia e lá conta com a companhia de Emmett, um outro homem que também foi ajudado por Howard.
Eterna Ramona de Scott Pilgrim Contra o Mundo, Mary Elizabeth Winstead se sai muito bem na pele de Michelle. Ela interpreta uma garota que passa por uma situação de muita dificuldade, mas que em momento algum se revela frágil. O veterano John Goodman interpreta Howard e entrega uma atuação incrível. Ele é louco, instável e ameaçador, mas com momentos em que realmente parece ser o único que sabe o que está acontecendo. John Gallagher Jr. completa o trio principal numa performance competente, mas que fica em segundo plano em comparação às demais. Há ainda uma participação especial super discreta do indicado ao Oscar Bradley Cooper, amigo de J.J. desde os tempos de Alias.
10 Cloverfield Lane (no original) é um filme claustrofóbico que consegue criar suspense e tensão por seus 105 minutos de duração. Trachtenberg, que já havia se destacado com os curtas Portal: No Escape e More Then You Can Chew (procure no YouTube!) se mostrou muito competente no desenvolvimento da narrativa.
Um dos problemas do primeiro longa era que o espectador não tinha muito para quem torcer. Os personagens não eram nada complexos e o casal principal não empolgava. Aqui é diferente. O público vai torcer, sofrer e vibrar com a personagem de Mary Elizabeth Winstead.
Um dos destaques da produção é a direção de fotografia de Jeff Cutter. Como no anterior, existem tomadas de ação com a câmera na mão. Mas o principal diferencial aqui são os takes muito bem pensados e compostos. A câmera parada, especialmente nos momentos em que mais de um ator está em cena, diz muito do que o filme pretende em termos de desenvolvimento narrativo.
Empolgante e angustiante em diversos momentos, o novo Cloverfield é um filme pequeno, sem grandes pretenções. Mas que tem muito a dizer. Entretenimento de primeira.