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    Brasil S/A
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Brasil S/A

    A tal modernidade

    por Bruno Carmelo

    Brasil S/A é um filme muito estranho. Isto poderia ser depreciativo, mas certamente o diretor Marcelo Pedroso e sua equipe têm consciência disso, e levaram uma estranheza precisamente calculada às telas do cinema. Depois do belíssimo (e também esquisito, é verdade) documentário Pacific, o cineasta decide experimentar os longas-metragens de ficção com uma obra conceitual, desconexa, provocadora e sem diálogos.

    A narrativa, por assim dizer, apresenta uma porção de esquetes associadas entre si por uma sátira patética da industrialização nas cidades brasileiras. Um dos instantes apresenta um cortador de cana confrontado à chegada de uma máquina assustadora, que faz o mesmo trabalho que ele, mas com mais rapidez. Outra cena confronta a moradora de um bairro rico ao trânsito caótico da cidade. A solução? Usar um aplicativo de celular e convocar uma cegonheira que a transporte pelas ruas. Em uma terceira cena, uma garota de biquíni comanda um balé de tratores, que fazem uma coreografia sincronizada. Às vezes uma bandeira brasileira flutua pelo céu (sem a parte “ordem e progresso” - entendeu a metáfora?), às vezes um filtro vermelho toma conta da tela, em outros instantes um sujeito no mangue busca algo incompreensível na lama.

    A comicidade de Brasil S/A é um tanto confusa. Pedroso utiliza um humor debochado e silencioso, num estilo que poderia lembrar o terno lirismo das crônicas modernistas de Jacques Tati, por exemplo, em Playtime. No entanto, este projeto incomoda por tentar constituir uma feroz crítica social sem a presença da sociedade em tela. Tenta-se problematizar a modernidade sem conflitos, sem sugerir origens, causas ou consequências do problema. Estão ali os grandes arranha-céus, a futilidade dos ricos, as desigualdades sociais, mas como mero pano de fundo. O discurso é tão disperso, tão pouco coeso, que a conexão com a realidade se perde. Talvez experiência possa ser descrita como uma projeção de O Som ao Redor sob efeito de LSD.

    Enquanto isso, as cenas se arrastam, alternam-se paralelamente, até se esgotarem do humor e da sensação de surpresa suscitada por cada uma delas. Uma incômoda sensação de aleatoriedade domina o conjunto, já que praticamente qualquer cena poderia anteceder ou suceder à outra, e que a montagem poderia ter sido reordenada em qualquer outra ordem, com pouca perda ao conjunto. Para uma comédia, Brasil S/A possui um ritmo monótono, aparentando se tratar de um projeto de curta-metragem enxertado com cenas até atingir a mínima duração necessária para ser considerado um longa-metragem.

    Pode-se parabenizar o diretor por ter feito uma obra ousada, pertencente a um gênero inclassificável, e também inédito no cinema brasileiro. Quase todas as cenas são plasticamente interessantes, mas em conjunto, enriquecem-se pouco, desenvolvem-se de modo insuficiente, gerando uma sensação de vazio. Menos uma história do que uma experiência estética, Brasil S/A enfraquece seu humor pela lentidão (em apenas 72 minutos!), e perde sua evidente intenção de crítica social em uma linguagem autoindulgente, que chama mais atenção para o próprio diretor do que para o conteúdo do filme.

    Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em setembro de 2014.

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