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    Dois Lados do Amor
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Dois Lados do Amor

    O amor é um campo de batalha

    por Francisco Russo

    “Tem um coração neste corpo. Tenha pena de mim.”

    (Connor Ludlow, personagem de James McAvoy)

    Comédias românticas costumam seguir uma fórmula previsível. Um casal briga o tempo todo até que uma virada surge para mostrar que há algo em comum entre eles, o que os leva ao inevitável e alegre desfecho - já reparou como são raríssimas as comédias românticas sem final feliz? The Disappearance of Eleanor Rigby : Them vem bagunçar um pouco o coreto ao apresentar um roteiro bastante inusitado que, por mais que traga elementos do gênero, é bem mais profundo do que uma comédia romântica tradicional. A começar pelo trecho descrito acima, que surge logo no início. Quantas vezes você viu um homem se abrir desta forma em algum filme?

    A proposta em torno do projeto, por si só, já chama a atenção. Them é a junção de dois outros filmes, Her e Him, que apresentam a mesma história mas sobre pontos de vista diferentes. Ou seja, nos filmes derivados é possível acompanhar todo o desenrolar desta mesma trama básica a partir do olhar de cada integrante do casal principal, formado por James McAvoy e Jessica Chastain. Them é a união destas duas vertentes, mostrando um panorama completo desta difícil relação que, logo nos primeiros minutos, já tem um bom histórico.

    É justamente esta bagagem que tanto ele quanto ela carregam que tanto intriga no longa-metragem. Sabe-se que eles têm uma história pregressa, que ela não quer vê-lo de forma alguma, que ele insiste em estabelecer algum contato, mas o que afinal de contas aconteceu? A resposta vem aos poucos, surpreendendo o espectador, não apenas pelo que revela mas também pelo peso da descoberta. The Disappearance of Eleanor Rigby: Them não é um filme sobre um casal, mas sobre a dor. Ou, mais exatamente, sobre como lidar com as feridas incontornáveis que um fato grave, bem grave, descarrega de forma avassaladora. Só que, ao mesmo tempo em que é bastante doloroso, encanta.

    Encanta principalmente porque é um filme muito humano. Humano nas necessidades, nas buscas, nas aflições e até mesmo nos enganos. Nos momentos divertidos, como são várias das conversas entre as personagens de Chastain e Viola Davis. Nos momentos românticos, como são as recaídas do casal principal. Nos momentos de fuga, quando a dor se torna tão grande que ela parece ser a única opção. No olhar de preocupação das pessoas à sua volta, aflitas com a dor camuflada e o que ela pode causar. Humano por trazer consigo sentimentos, e respeitá-los. Mérito para Ned Benson, autor deste belíssimo roteiro e também diretor do longa-metragem.

    Para coroar esta história de descobertas inesperadas, há ainda uma grande atriz. É impressionante a atuação de Jessica Chastain, pela fortaleza que representa e a sensibilidade na verdadeira montanha-russa que é sua personagem. James McAvoy também faz um bom trabalho, mas é ofuscado pelo brilho dela. Um casal que combina, na alegria e na tristeza, na química e no choro. Um casal de verdade.

    The Disappearance of Eleanor Rigby: Them é um filme impressionante, dono de uma carga emocional pesada que vai se manifestando aos poucos, mas que também aponta caminhos. Em especial no desfecho fabuloso, no qual o espectador sabe exatamente o que acontecerá, mesmo sem que o longa mostre. Delicado e sensível, um filme para ser visto e sentido.

    “A tragédia é uma terra estrangeira, onde não se consegue falar com os nativos.”

    (Julian Rigby, personagem de William Hurt)

    Filme visto no 67º Festival de Cannes, em maio de 2014.

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