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    Homem Irracional
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Homem Irracional

    O crime perfeito, de novo

    por Francisco Russo

    No interessante Woody Allen - Um Documentário, o veterano diretor revela um pouco de como é seu processo de criação a cada novo filme, mostrando uma gaveta onde guarda ideias para possíveis roteiros. Quando está em busca de alguma história para contar, ele simplesmente vasculha o material. Seu novo trabalho, o mediano Homem Irracional, deixa a sensação de que ele mais uma vez seguiu este procedimento, só que agora vasculhando sua própria filmografia.

    Não é que o filme seja ruim, mas há nele uma quantidade tão grande de ideias recauchutadas de filmes anteriores do próprio Allen que, para quem conhece sua filmografia, fica uma inevitável decepção. Ainda mais porque, em todos os casos, a versão original é melhor. Senão vejamos: a ideia central passa pela possibilidade de realizar o crime perfeito, concebido por uma mente tão inteligente que consegue antever todos os passos dados para que não deixe qualquer rastro, com direito aos inevitáveis questionamentos envolvendo culpa e moralidade. Ora, esta nada mais é do que a premissa básica de Crimes e Pecados, lançado por Allen em 1989!

    Mais um exemplo: a personagem de Emma Stone – a musa da vez do diretor, que também a escalou em Magia ao Luar -, sente-se cada vez mais atraída pelo intelecto de seu mentor, interpretado por Joaquin Phoenix. A mesma situação já foi vista tanto em Tudo Pode Dar Certo quanto em Manhattan! Ou seja, são as mesmas histórias apresentadas em outro contexto e com uma pequena (e importante) variável: Allen aqui deseja falar sobre o quanto fazer algo proibido pode dar um novo ânimo na vida de alguém – trata-se da tal irracionalidade mencionada no título, atos que, se fossem analisados friamente, jamais aconteceriam. Ok, isto também foi abordado em Crimes e Pecados, mas ao menos trata-se de uma ótica diferente.

    Para sustentar toda esta ambientação, Allen mais uma vez recorre ao artifício da filosofia. Entre citações a Kant, Simone de Beauvoir e Sartre, há boas sacadas sobre a adequação dos ideais filosóficos ao “terrível mundo real” (parafraseando o filme) e exemplos interessantes envolvendo Anne Frank e livre arbítrio. O uso de uma trilha sonora quase sempre alegre e o fato deste ser um filme solar, rodado em pleno verão, também auxiliam na contextualização da nova vida do personagem de Phoenix – que, curiosamente, combina bem com sua persona pública. Já Emma Stone surge com um visual contemporâneo e, como volta e meia acontece em filmes do diretor, repete a personagem da jovem que idolatra o amado até perceber que ele, no fundo, não é bem o que parecia ser. “Havia algo de muito errado com ele, mas era tão fascinante...”, ela diz durante o filme.

    Homem Irracional ainda resvala em problemas menores de roteiro, como o conveniente desaparecimento e ressurgimento do namorado de Emma Stone e a perda paulatina de importância que a personagem de Parker Posey sofre no decorrer do filme. Mas, apesar de todos os defeitos e repetições, ainda assim é um filme de Woody Allen – e isto, por si só, garante um mínimo de qualidade.

    Filme visto no 68º Festival de Cannes, em maio de 2015.

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