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    A Onda da Vida - Uma História de Amor & Surf
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    A Onda da Vida - Uma História de Amor & Surf

    Onda errada

    por Renato Hermsdorff

    A Onda da Vida - Uma História de Amor & Surf é um filme ingênuo. Com início e fim muito bem definidos – e, acredite, isso é um mérito da produção –, é no decorrer da história do longa dirigido por José Augusto MuletaRaphael Gasparini que a obra se afoga.

    Em se tratando de um filme com o surfe como pano de fundo, a trama parte do mesmo princípio que 11 de cada dez filmes com o esporte como temática: um grupo de amigos decide fazer uma viagem (ou “trip”) para surfar. Os três companheiros têm um perfil muito bem definido – e caricato. Caio (Caio Vaz) é o houle da galera, mais novo, inexperiente e empolgado; Tiago (Omar Docena) faz a linha come-quieto do conquistador discreto; Joel (Guilherme "Tripa" de Souza) completa o trio como o responsável, o “cabeça”.

    O destino é Itacaré, no sul da Bahia. Porém, na altura do Espírito Santo, o carro quebra e o conserto toma todo o dinheiro planejado para se chegar ao Nordeste. Nos dois dias que demoram para o carro ficar pronto, eles descobrem uma boa praia para a prática do esporte no litoral do estado (que patrocina o longa, via Secretaria Estadual de Cultura) e a hospitalidade do povo da comunidade local de pescadores.

    Para justificar a “história de amor” do subtítulo do filme, Tiago se envolve com uma garota da vila, filha de um pescador com cara de poucos amigos, que não vai aprovar o namoro. E essa não será a primeira vez do rapaz, que já sofreu ao se apaixonar por uma nativa em outra viagem.

    Praticamente sem diálogos – ou, pelo menos, conversas que durem mais de dois minutos – o filme é preenchido por uma sequência de músicas que substituem a fala, intercaladas por expressões como “irado”, “good vibe” e, no carioquês, “sinixxxtro”; e pouquíssima ação dramática de fato, o que faz de um pneu furado uma tragédia sem precedentes na Grécia antiga.

    O filme é narrado por Caio. E, se o sotaque carioca carregado não for uma barreira para embarcar na história, o vocabulário limitado do garoto provavelmente o será. Dos males, no entanto, esse é o menor. A interpretação do trio de atores-surfistas é (muito) ruim, mas melhora em comparação, quando entram em cena os “nativos” coadjuvantes.

    O filme piora quando, no intuito de ensinar a importância dos valores simples da população local como estilo de vida, respinga clichê para todo lado. E tudo soa muito didático e naïf. O nativo abre as portas da casa de coração; o pai matuto não quer saber de ninguém de conversinha com a sua filha; tem até um velho sábio de cajado na mão para explicar o que é a festa do Caboclo Bernardo (uma tradição local).

    Em uma das conversas mais longas do filme, um personagem explica a diferença entre a moqueca capixaba e a peixada, praticamente listando todos os ingredientes do prato típico. Não seria um problema, em si, não fosse, por exemplo, o fato de a mocinha da trama não ter nenhuma fala. Ne-nhu-ma.

    Na falta de texto, a música, então, entra como uma muleta para conduzir a emoção (“Uma História de Amor...) ou ação (“...& Surf). Com belas imagens – cenas de luz estourada, desfoque – o resultado final lembra mais uma seleção desconexa de clipes da (antiga) MTV ou um reality show do canal Mutishow, em que jovens bem-nascidos e sem conflitos viajam o Brasil (ou o mundo) em busca de aventura.

    A Onda da Vida - Uma História de Amor & Surf é o tipo de filme que começa do (ou perto do) final. Ao arrastar a caiçara para longe, Tiago é esfaqueado pelo pai dela. Na retomada da cena, a ação ganha um rumo que pode surpreender. É uma boa onda. Mas é a única.

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