A beleza da inocência
por Lucas SalgadoVencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes de 2014, As Maravilhas é um filme diferente. É difícil se empolgar, mas também é difícil não se envolver. Não conta com uma trama mirabolante ou ousada, mas oferece personagens complexos e cativantes.
Dirigido por Alice Rohrwacher (Corpo Celeste), o longa é centrado na história de Gelsomina (Maria Alexandra Lungu), uma jovem garota que vive com os pais e com as três irmãs na região da Toscana. Ela ajuda o pai na produção artesanal de mel, que é a principal fonte de renda da família, que vive em dificuldades. Exótico e sonhador, o patriarca está sempre se envolvendo em negócios estranhos, como investir em um camelo.
A vida de Gelsomina, e de sua família, sofre uma mudança radical com a chegada do garoto Martin, que é de certa forma adotado e passa a trabalhar na casa. Os dois desenvolvem uma relação de cumplicidade que é focada totalmente no silêncio, uma vez que o jovem praticamente não fala.
As relações entre os personagens são muito bem desenvolvidas, mas eles também funcionam individualmente. Estreante na tela grande, Maria Alexandra Lungu passa com perfeição a inocência e sabedoria desta menina que tem responsabilidades de adultos.
Sam Louwyck interpreta o pai da protagonista e passa bem o sentimento de sonhador e ao mesmo tempo tímido, mas que tem orgulho da família e de seu mel. Ele protagoniza boas cenas com Alba Rohrwacher e Sabine Timoteo, na clássica dinâmica de família italiana barulhenta e confusa.
O elenco conta ainda com a participação Monica Bellucci, que vive uma atriz/modelo que apresenta o programa Ilha das Maravilhas, que irá despertar o interesse de Gelsomina. Trata-se de uma figura propositalmente artificial, mas sempre cativante.