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    Califórnia
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Califórnia

    As vantagens de ser ex-VJ

    por Renato Hermsdorff

    “Todo mundo lá na escola acha que você gosta de garotos”, diz a jovem Estela (Clara Gallo) para o “estranho” companheiro de classe que acaba de ser transferido para a escola dela, JM (Caio Horowicz). “Digamos que não chutaria o Mick Jagger da minha cama”, devolve o rapaz.

    A sagacidade da resposta do garoto combina – e muito – com o universo de incertezas e conflitos do desabrochar da adolescência, tema central da estreia no formato longo de ficção da ex-VJ da MTV Marina Person (do documentário Person). Esse tipo de sutileza, no entanto, não é a tônica de Califórnia.

    De tons autobiográficos, o filme, ambientado no início dos anos 1980, acompanha o coming of age de Estela, uma adolescente como outra qualquer, unida com duas amigas, dividida entre dois meninos, que idolatra o tio, Carlos (Caio Blat), jornalista que mora na Califórnia.

    “Diferente”, como qualquer outro adolescente, ela troca a festa de 15 anos por uma viagem para encontrar o irmão da mãe nos Estados Unidos. Fragilizado pela AIDS, no entanto, é ele quem está de malas prontas para o Brasil.

    A trama, em si, é fraca. Não há nada de original (a começar pelo pôster, chupado de As Vantagens de Ser Invisível) nas cenas em que as amigas discutem a perda da virgindade, como usar o O.B., a opção entre o menino popular e surfista versus o outsider descabelado. Fora Gallo e Horowicz, muito confortáveis em seus papéis, o jovem elenco jovem de apoio é artificial e robótico.

    Mas Califórnia cativa pela ambientação. Do figurino (Leticia Barbieri) à direção de arte (Ana Mara Abreu), a produção é uma passagem de volta para (quem viveu) os anos 1980. E, nesse quesito, a excelente seleção musical (The Cure, David Bowie, New Order, Echo and The Bunnymen, Joy Division, Metrô, Kid Abelha) se sobressai. Como era de se esperar, os 18 anos de Marina na MTV não decepcionam. E, da mesma forma, a ex-VJ não tem pudores em abordar temas polêmicos como sexo e drogas, o que não

    deixa de ser uma opção corajosa quando estamos falando de personagens em torno de seus 14 a 17 anos.

    O papel mais bem construído – e interpretado –, no entanto, é o do tio vivido por Blat. Passado o tom documental/ publicitário da apresentação dos personagens principais na primeira metade, o filme ganha densidade com a entrada do experiente jovem ator. Magro, ele adota um gestual sutil (mais um dos poucos momentos), como no momento em que treme de maneira quase imperceptível ao fumar um cigarro enquanto conversa com a sobrinha.

    Mas o resultado final é duro e pouco acrescenta ao abrangente universo das descobertas da adolescência.

    Filme visto no Festival do Rio, em outubro de 2015.

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