O custo humano da guerra
por Bruno CarmeloO francês Robert Guédiguian sempre foi um cineasta humanista, comprometido com as histórias dos operários, pescadores e dos indivíduos desfavorecidos de modo geral. Com esta temática, ele criou obras-primas como La Ville Est Tranquille (2000) e As Neves do Kilimanjaro (2011), ambos muito simples em termos de produção, mas complexos na ambição política e sociológica. Às vezes, projetos como estes são alternados com grandes afrescos históricos, nos quais o cineasta obtém resultados mais irregulares. É neste grupo que se encontra Uma História de Loucura.
O diretor se interessa mais uma vez à questão do genocídio na Armênia, focando-se nos jovens armênios que entram na luta armada, e consequentemente no terrorismo. Três histórias paralelas questionam o custo das guerras e os limites da guerrilha como forma de reparação histórica: 1. O jovem Aram (Syrus Shahidi), obcecado pela vingança contra os turcos, organiza um atentado contra o embaixador da Turquia na França, mas acaba afetando também um homem passando pelo local; 2. Esta vítima, Gilles (Grégoire Leprince-Ringuet) perde o movimento das pernas e decide conhecer o homem responsável por seu calvário, aproximando-se da família dele; 3. Os pais de Aram, o pacífico Hovannès (Simon Abkarian) e a revolucionária Anouch (Ariane Ascaride) esperam pelo retorno do jovem guerrilheiro enquanto acolhem a vítima dele como se fosse o próprio filho.
O roteiro pretende compreender os lados de todas as pessoas envolvidas, criticando o extremismo, mas vendo na vingança simbólica de Aram uma forma legítima de luta. Para deixar claro que a abordagem não é pró-guerra, Guédiguian assina uma dedicatória na conclusão, destinada justamente ao povo turco, numa tentativa de equilibrar o discurso. Os momentos mais simples relembram as qualidades de As Neves do Kilimanjaro: é comovente ver Gilles dormindo na cama de seu carrasco, enquanto a mãe deste o observa à distância. As cenas mais simples são, de longe, as mais bem-sucedidas. É uma pena que sejam minoritárias.
Uma História de Loucura constitui, na essência, um melodrama de guerra padrão, com direito a todos os clichês estilísticos e narrativos do gênero. Existe um longo flashback em preto e branco, didático e recheado de números e datas, para explicar a história do povo armênio. Entram em cena igualmente um romance pouco desenvolvido entre dois guerrilheiros, fotos de família levando personagens às lágrimas, trilha sonora profundamente sentimental, acertos de conta em ruas vazias, de madrugada.
A construção da mise en scène não é apenas convencional, ela é também bastante óbvia. Quando Vahé (Amir El Kacem) entra no carro e sai logo depois, por ter esquecido um objeto em casa, já se imagina que o veículo em questão esteja prestes a explodir – o que ocorre na cena seguinte. Quando uma avó doente diz que pretende ter suas cinzas espalhadas na Armênia, ela falece na mesma noite. Os diálogos se reduzem a grandes frases de efeito, evocações de bravura ou explicações históricas. Não estamos muito distantes das telenovelas, com sua divisão em núcleos e conflitos movidos mais pela emoção do que pela lógica.
No fundo, Uma História de Loucura é respeitável pelas intenções e pelas atuações sempre competentes do elenco de colaboradores regulares de Guédiguian. Mas o filme decepciona por ser excessivamente solene e exemplar. Todos os personagens carregam o peso de representar grupos inteiros: os guerrilheiros, os franceses, as famílias, os turcos... O cineasta ainda se sai muito melhor quando limita o escopo de suas narrativas. É nas histórias individuais que seu discurso soa mais universal.