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    Triunfo
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Triunfo

    O som contra a imagem

    por Bruno Carmelo

    O documentário Triunfo começa com um ritmo frenético, apresentando o dançarino Nelson Triunfo em frente ao Teatro Municipal, dançando com os amigos, e logo depois citando rapidamente a infância, a passagem por Brasília, a chegada a São Paulo, a paixão pela dança e pela música soul. Enquanto a trilha sonora transborda de ritmos, as imagens se sucedem rapidamente, com diversas fotos animadas, mapas e depoimentos. O filme quer imprimir um ritmo transgressor e juvenil às imagens, e nesse sentido, adota uma estética coerente.

    Em tela, as dezenas de entrevistados rasgam elogios a Nelson Triunfo: ele foi um visionário, trouxe o soul ao Brasil, levou o rap às ruas e depois à periferia. Julgando pela paixão dos depoimentos, e pela empolgação do próprio diretor Cauê Angeli, Triunfo é uma personalidade importantíssima para a cultura negra brasileira dos anos 1970. Infelizmente, as imagens não comprovam essa empolgação: insiste-se que Triunfo é um ótimo dançarino, mas existem poucas cenas com ele dançando, fala-se em seu trabalho nas comunidades pobres, mas isso nunca é mostrado ao espectador, afirma-se o seu papel pioneiro na importação de ritmos, mas nenhum indício nas imagens comprova a iniciativa do artista.

    O documentário adquire um tom curioso, como se o som propusesse uma homenagem a um grande homem, enquanto a imagem retratasse um homem comum. Com pouca pesquisa e ainda menos imagens de arquivo, Angeli contenta-se em retratar Triunfo nos dias de hoje, em algumas festas, enquanto mostra imagens sobre a cultura negra em geral, sobre os bailes de antigamente. O cineasta poderia fazer um ótimo uso do próprio Triunfo, que concede entrevista ao filme, mas se contenta com os comentários mais banais do artista, dando menos tempo de tela a ele do que aos elogios de Thaíde e outras personalidades do cenário musical.

    Assim, fica a incômoda sensação de que Nelson Triunfo é um personagem coadjuvante no documentário. A direção prefere aprofundar a discussão sobre a evolução da música soul para o rap e o hip hop e contextualizar a cultura negra, hesitando em apontar o dançarino como causa ou consequência destes movimentos. Ele parece ser uma pessoa a mais, um exemplo desta onda. Angeli inclusive confere maior atenção à cabeleira característica do artista do que à sua dança. A prova maior deste distanciamento ocorre quando os entrevistados citam uma doença de Triunfo, que o teria tirado das ruas durante muito tempo. O filme alegremente continua o seu percurso, sem que o dançarino faça falta, discorrendo sobre a cultura musical, até que muito tempo depois, alguém pergunta: “Mas o que fazia Triunfo, este tempo todo?”. Pois é. Esqueceram Triunfo.

    Por fim, este é um documentário interessante como apanhado histórico, como ponto de vista sociológico de uma cultura específica. No entanto, seu olhar sempre externo impede que se conheça mais sobre Triunfo, sua personalidade, seus casos durante o percurso. Fala-se muito sobre um “ícone da música”, mas pouco sobre o homem por trás dele. Com suas cenas fictícias de atores ouvindo rádios e dançando (como se estivessem prestigiando o trabalho do artista), Triunfo é um documentário com pouco valor de documento, mas com uma bela aspiração ao lirismo - curiosamente obtido através do recurso à ficção, e não pela linguagem documental. 

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