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    Até que a Sorte nos Separe 3
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Até que a Sorte nos Separe 3

    Melhora, mas ainda apela

    por Renato Hermsdorff

    Na dinâmica da franquia Até que a Sorte nos Separe, Tino (Leandro Hassum) ganha e perde dinheiro – foi assim por dois filmes. No terceiro, ele não chega a ganhar. E o dinheiro que perde nem é dele mesmo – é “do Brasil”. Alterando a lógica repetitiva dos longas anteriores, o roteiro explora de maneira oportuna a efervescência do caldeirão político e econômico nacional atual – se valendo do carisma do ator protagonista –, porém com uma qualidade técnica sofrível.

    Dessa vez – e pela primeira vez – Tino trabalha. Ele é vendedor de biscoito Globo na praia (cariocas entenderão). A ação começa quando, vendendo a iguaria no sinal de trânsito, ele é atropelado por Tom (Bruno Gissoni). Depois de sete meses em coma, o personagem acorda e descobre que: 1) o jovem é filho de Rique Barelli (Leonardo Franco), o homem mais rico país; 2) sua filha, Teté (Júlia Dalávia) está enrabichada pelo rapaz.

    Casamento marcado, Tino assume a função de pai da noiva e decide arcar com os custos da festa. Com que dinheiro, porém? É aí que Rique oferece emprego para o falido em sua empresa, uma agência importante que lida com o obscuro mundo do capital especulativo. Depois de atender uma ligação que não deveria – e tomar uma decisão que não lhe caberia -, Tino arrasa acidentalmente as bolsas de valores do mundo todo, levando o Brasil à falência.   

    Trata-se de um substrato político-econômico atual e rico de significados por si só, cuja exploração pelo roteiro de Paulo Cursino revela-se uma decisão acertada. A forma como o texto encaixa as atrapalhadas da família nesse cenário que tem Dilma (Mila Ribeiro), Eike Batista (o personagem de Leonardo Franco) e Luma de Oliveira (a Malu de Carmo, interpretada por Emanuelle Araújo) como referências explícitas é, por si só, criativa. Mas a ideia resulta em um esforço quase falido quando abraça uma gama de subtramas que tiram a força do arco central e investe em cenas apelativas e grosseiras.

    Um exemplo: presença constante na franquia, o Amaury de Kiko Mascarenhas tem que lidar com um enredo nulo que envolve um relacionamento amoroso com a mulher responsável por auditar as contas da empresa, Nora Banks (Silvia Pfeifer) – e que termina por coroar em tom meloso a “mensagem” a que o filme se propõe de trazer de que “família é coisa mais importante da vida”.

    Mais exemplos? Hassum tem uma cena de briga (a maldita herança do “humor físico”) com o um boneco que não faria a mínima diferença se ficasse de fora – correção: valorizaria o filme se fosse cortada; ou o momento em que Tino acerta – e conserta – o olho de Nestor Cerveró (Bemvindo Siqueira), que é constrangedor (fora que chamar a presidente de presidANTA ou “mulher sapa” não é só é jogar para a plateia, é desrespeitoso).

    Por outro lado, justiça seja feita: apesar de jogar o jogo ganho, a trama principal bate também no capital privado e especulativo que ajudaram a arrastar o país para a situação em que está hoje. Se Dilma não presta, na visão dos realizadores de Até Que a Sorte 3, tampouco vale Eike Batista.

    Confortável (pela terceira vez) na pele do protagonista, é impossível separar os momentos em que Leandro Hassum está seguindo o texto daqueles em que ele improvisa. E o humor do comediante, que perdeu mais de 50 Kg no último ano, está mais para o deboche do que para o físico. Nesse ponto da franquia, Hassum é o filme – e prova disso é que a produção perde completamente a força nos momentos em que ele não está em cena.

    Apesar do excesso de merchandising, a terceira parte da trilogia foi realizada a toque de caixa – filmada entre setembro e outubro de 2015 para ser lançada em dezembro -, com efeitos visuais tão toscos, que nem um “simples” chroma key de paisagem com carro em movimento é convincente.

    Na comparação com os filmes anteriores, Até que Sorte nos Separe 3 perde quanto ao acabamento técnico; evolui em termos de roteiro; mas ainda apela para o riso fácil.

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