Floresta dos lamentos
por Francisco RussoGus Van Sant é um diretor que tanto pode ousar com Elefante quanto pode copiar - literalmente - em Psicose. Se por um lado tem filmes premiados e queridos pelo público, como Gênio Indomável e Milk - A Voz da Igualdade, por vezes se mete em enrascadas do porte de Encontrando Forrester e Terra Prometida. Esta trajetória errática mais uma vez se confirma em The Sea of Trees, exibido na mostra competitiva do Festival de Cannes 2015. O que impressiona desta vez é o tamanho da bomba em que se meteu.
O longa-metragem até traz uma ideia interessante, envolvendo uma floresta no Japão conhecida pela grande quantidade de pessoas que ali resolvem se matar. É o que acontece com o personagem de Matthew McConaughey, que deixa os Estados Unidos rumo a Tóquio com este objetivo. Lá encontra esqueletos, cadáveres e outro suposto suicida, Ken Watanabe, com quem enfrenta dificuldades. Afinal de contas, a floresta também tem seus mistérios e armadilhas e, dentro de suas características, tem uma lição a dar no personagem principal. Sim, é por aí que o filme segue, na linha de auto-ajuda para expiar pecados e angústias.
O primeiro problema de The Sea of Trees surge logo na viagem de McConaughey ao Japão: a trilha sonora, inconveniente com o momento emocional do personagem e por vezes até invasiva, como se pode perceber ao longo de todo o longa-metragem. “Méritos” para o compositor Mason Bates, que estreou em longas justamente com este trabalho. Entretanto, este ainda é um defeito menor diante da obviedade absoluta do roteiro de Chris Sparling (Enterrado Vivo), que não apenas entrega de antemão todos os possíveis mistérios da trama como, ainda por cima, faz questão de repeti-los no desfecho para que não haja a mínima dúvida sobre a história apresentada. Ou seja, trata os espectadores como se fossem analfabetos cinematográficos, incapazes de raciocinar em cima do que é exibido – e olha que The Sea of Trees não exige nenhum tipo de avaliação profunda, muito pelo contrário!
Tendo como base o confronto entre ciência e religião, personificado sem muito aprofundamento no personagem de McConaughey, não demora muito para que o filme enverede de vez no lado espiritual, representado pelas mudanças constantes na floresta e o fato de que, por mais que os dois se machuquem, sempre estão em condições de seguir em frente. O porquê de tamanha penitência é apresentado através de flashbacks, onde surgem os poucos pontos positivos do filme: as cenas iniciais entre McConaughey e Naomi Watts, onde seus personagens enfrentam problemas, são bem atuadas. Entretanto, mesmo estas sequências do passado logo caem na vala comum da obviedade, especialmente na metade final.
Diante de tantos problemas, The Sea of Trees caminha vagorosamente rumo a um desfecho desastroso, onde não apenas desperdiça as poucas oportunidades que surgem como ainda insiste em um didatismo irritante. Pelo tema e o modo como foi executado, não dá para entender como um diretor veterano e com o currículo de Gus van Sant ainda se mete neste tipo de produção. Péssimo filme, justamente vaiado ao término da sessão para a imprensa mundial no Festival de Cannes.
Filme visto no 68º Festival de Cannes, em maio de 2015.