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    Um Belo Verão
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Um Belo Verão

    Mulheres livres

    por Bruno Carmelo

    Na primeira cena em que vemos Delphine (Izïa Higelin), a jovem está sendo questionada pelo pai sobre a demora em encontrar um namorado para se casar. No instante seguinte, está beijando uma garota. Na primeira cena em que vemos Carole (Cécile de France), ela está provocando homens na rua, gritando contra o patriarcado. As duas são definidas como sintomas: uma é lésbica e tímida, a outra é extrovertida e politizada.

    O roteiro não é muito sutil, anunciando rapidamente uma aproximação entre as duas mulheres. Cada uma tem um problema pessoal para a concretização do romance: Delphine não assumiu a sua homossexualidade por medo da reação dos familiares, e Carole namora um homem. A Bela Estação, assim, aborda menos a questão do preconceito do que da aceitação de si. A liberação da sexualidade feminina surge como meta essencial ao pleno desenvolvimento da sociedade contemporânea.

    O grande mérito deste romance encontra-se no elenco. Tanto Izïa Higelin quanto Cécile de France estão excelentes, transmitindo verossimilhança em suas descobertas sexuais e políticas. O trabalho corporal e vocal da dupla é refinado e bastante técnico, algo completado pelas boas participações de Noémie Lvovsky e Kevin Azaïs. É sempre um prazer, em um filme dedicado à trajetória de seus personagens, observar um elenco tão afinado.

    Já a cineasta Catherine Corsini busca uma mistura entre realismo e idealização. O realismo está presente na intensa exposição do corpo nu das atrizes, em planos próximos, com uma câmera que passeia por toda a pele, do rosto à ponta dos pés. Raras diretoras têm a coragem de fazer planos aproximados do púbis de suas atrizes principais. Já a idealização encontra-se no fetiche do campo (visto como lugar ensolarado, de natureza farta, banhado pela trilha sonora romântica) e no fetiche da cidade, vista como ícone de liberdade e contracultura.

    A Bela Estação acaba sendo um filme didático em sua exibição de opostos: o campo contra a cidade, a repressão contra a liberdade sexual, o conservadorismo contra o pensamento progressista. Mesmo assim, a história de Delphine e Carole é comovente, bem desenvolvida pelo roteiro. A discussão política sobre o direito das mulheres permanece superficial, mas a história de amor sustenta-se de modo autônomo.

    Filme visto no Festival do Rio, em outubro de 2015.

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