Aventura à brasileira
por Francisco RussoNem só de comédia se faz o cinema brasileiro. Órfão de filmes infanto-juvenis desde a aposentadoria das telonas de Renato Aragão (e dos inesquecíveis Trapalhões), o cinema nacional volta a flertar com o gênero através de um velho conhecido: Helvécio Ratton, responsável por A Dança dos Bonecos e Menino Maluquinho. O veterano diretor retorna às telonas com O Segredo dos Diamantes, onde explora características típicas da aventura em uma realidade bem brasileira.
O longa-metragem acompanha a saga de Ângelo (o estreante Matheus Abreu), que, ao lado de dois amigos (Rachel Pimentel e Alberto Gouveia, também atores de primeira viagem), tenta decifrar um enigma que pode levá-los a um punhado de diamantes supostamente escondidos há mais de 200 anos. Com elementos que lembram a dinâmica do trio principal das séries Harry Potter e Percy Jackson e uma pitada de O Código Da Vinci, no sentido de buscar pistas em livros, O Segredo dos Diamantes ainda explora com habilidade a beleza histórica das cidades do interior de Minas Gerais, provocando um contraste interessante com a modernidade presente nos smartphones e na internet, que possuem papel importante dentro da história.
Diante desta mistura bem azeitada, Ratton oferece ao espectador uma aventura divertida temperada por uma ingenuidade positiva, vinda tanto dos garotos como do próprio ambiente. Há um punhado de situações que encantam pela simplicidade, seja as tiradas espirituosas de Alberto Gouveia, o tio interpretado por Rodolfo Vaz ou até o peculiar Zé Salame (Glicério Rosário), que encontra o baú que desencadeia toda a jornada. Quem também merece destaque é Rui Resende, que compõe um vilão cartunesco perfeito para o tom do filme.
Por mais que apresente um equívoco aqui e outro ali, como o súbito desaparecimento da personagem de Rachel Pimentel no terceiro ato da história ou ainda o fato de Ângelo escapar completamente ileso do grave (e bem apresentado) acidente de caminhão exibido no início do longa-metragem, O Segredo dos Diamantes diverte bastante. Muito graças à mineirice intrínseca do filme, presente desde a trilha sonora com canção inédita do Skank até o bom uso das lendas sobre a exploração de pedras preciosas séculos atrás, que dá uma sustentação histórica à trama base. Bem feito e envolvente, o filme consegue a rara proeza de divertir tanto adultos (pela nostalgia) quanto crianças (pela aventura).
Filme assistido durante a cobertura do 42º Festival de Gramado, em agosto de 2014.