Tudo acaba em 'dancinha'
por Renato HermsdorffO visual colorido, o pano de fundo histórico (ainda que tomadas emprestadas as devidas licenças poéticas), o diálogo afiado, as referências para os adultos, o coadjuvante que rouba a cena. Não são poucos os atributos que colam nos filmes A Era do Gelo – em variados graus – o selo de “diversão garantida” – o tipo de programa infantil que nem de longe é um suplício para os pais. Todos os elementos permanecem presentes neste quinto episódio da franquia, iniciada em 2002. Mas tampouco o diferenciam do que foi feito até aqui.
Em A Era do Gelo: O Big Bang, desta vez (e mais uma vez), Sid, Manny, Diego e cia. veem seu lar ameaçado por uma catástrofe, um enorme meteoro em rota de colisão com a Terra. Sem saber o que fazer para reverter a situação, eles terão (terão mesmo?) que confiar em Buck, a elétrica (e hilária) doninha caolha desenterrada do terceiro filme – único do grupo que realmente tem um plano para evitar o trágico fim de todos.
O involuntário responsável pelo “big bang” (expressão que na, ciência, se refere à grande expansão do universo, aqui associada a uma possível destruição em massa – olha aí a licença) é o carismático esquilo Scrat e sua incansável perseguição pela noz, em uma aventura... no espaço! (Entre um universo e outro há um trio de dinossauros voadores vilões à caça de Buck, subaproveitados no contexto da trama).
Claro, trata-se uma aventura familiar, antes de tudo que, pouco a pouco, considerando o arco do conjunto dos filmes, vai ganhando novos personagens e adicionando camadas de laços afetivos. Se Manny não só havia encontrado Ellie, sua cara metade, bem como procriado, ele agora está à beira do ninho de mamute vazio, com a iminente saída de Amora, adolescente, de casa. Diego, que não está mais sozinho, começa a vislumbrar a possibilidade de espalhar leõezinhos pela Terra (um caminho que seria lógico para essa produção, mas possivelmente adiado para o futuro da franquia).
E foi preciso um quinto filme para que Sid, a preguiça que assume o papel de personagem mais infantil da trupe – que, no máximo, tinha encontrado a Vovó (outra personagem que mantém o carisma aqui) –
achasse... “o vento debaixo das suas pulgas”, “a alga do seu olho”, enfim, sua cara-metade. Fi-nal-men-te.
Num ritmo glacial, portanto, a turma evolui, de maneira tão lógica quanto previsível. O apelo popular é reforçado pela atualização das expressões usadas na dublagem. É um trabalho que não perde o foco da comunicação com as crianças (com diálogos do tipo “mexeu com a Vovó, levou um chute no popó”), mas acrescenta a linguagem que os adolescentes têm desenvolvido nas redes sociais – como referência à “foto de perfil” ou o uso da gíria “mitar”, que vem de mito, para dizer que algo ou alguém... arrasou?
O destaque fica mesmo por conta de Scrat, o coadjuvante irresistível, e a inseparável (bem, não é bem assim) noz. A trama do esquilo, que se desenvolve em paralelo, é o que a produção traz de mais empolgante, fruto das atrapalhadas do personagem, inseridas em um contexto sem fala, uma estrutura que exige mais ainda da criatividade dos realizadores.
Porque de volta à Terra, tudo acaba em... dancinha. Spoiler? Ah, vá...