O Que Será de Nozes?: Crítica AdoroCinema

O início deste filme infantil é mais do que familiar: esquilos falam uns com os outros sobre a falta de comida no parque onde vivem. Se ninguém fizer algo, eles podem morrer! Logo, começam correr atrás de alimentos, especialmente as tão queridas nozes. Em poucos minutos, estão plantadas as sementes para a tradicional mensagem sobre união, amizade, ajuda ao próximo e consciência ecológica, elementos quase obrigatórios das animações infantis hoje em dia.

Tecnicamente, o filme não se distingue de outras dezenas de animações já feitas sobre roedores. Para uma pequena produção como esta, o fato é positivo: afinal, a imagem não faz feio perto das animações caras de Hollywood. Aliás, cada vez mais se percebe que as pequenas animações estrangeiras (o sul-africano Khumba, o espanhol Justin e a Espada da Coragem, esta coprodução entre Estados Unidos e Coreia do Sul) conseguem dominar muito bem as ferramentas da imagem e do 3D. Se tecnicamente os pequenos projetos impressionam, a grande diferença para a excelência da Pixar e da Laika está no roteiro. Enquanto filmes como Valente e ParaNorman apostam em personagens complexos e conflitos morais, os demais estúdios se dedicam à velha cartilha do gênero, com seu maniqueísmo e suas tradicionais recompensas no final.

O Que Será de Nozes? não possui a intenção de inovar dentro do filão de animações. Ele se contenta com os mesmos valores, as mesmas reviravoltas, a mesma previsibilidade. Para não dizer que não há novidade alguma, a trama apresenta uma espécie de introdução ao filme de gângsteres para crianças. Enquanto os esquilos planejam roubar as nozes de uma loja, humanos mafiosos planejam roubar um banco. A montagem trata de comparar os dois planos, enquanto o roteiro entrega uma quantidade incomum de personagens manipuladores, pouco confiáveis e até mulheres fatais.

Obviamente, não há morte nem sangue nesta pequena história familiar, apenas uma porção de piadas sobre peidos e arrotos, além de cachorrinhos fofos para despertar risos nas crianças pequenas. Mas a estrutura do suspense policial está presente, incluindo personagens que revelam ter uma personalidade diferente daquela anunciada no início e mesmo alguns momentos sombrios (a cena da cachoeira). Por esse aspecto apenas, o filme já merece ser destacado.

Além disso, a dublagem é competente, preferindo dubladores profissionais às pseudo celebridades da televisão, como têm feito outras animações recentes. Mas piadinhas juvenis na versão brasileira ainda incomodam, especialmente expressões do tipo “pirar o cabeção” ou frases como “eu comi tanto queijo que estou me sentindo mineirinho”. Isso sem falar no título infeliz escolhido para o público brasileiro – enquanto o original, The Nut Job, parodia outros filmes policiais e de gângsteres, como o clássico The Italian Job.

Mesmo assim, O Que Será de Nozes? consegue passar o seu recado, com toda a clareza e didatismo que acredita ser necessários ao público infantil. O filme pode não ser particularmente memorável, mas faz um uso competente da técnica, e ainda consegue embutir uma crítica incomum ao mito do self-made man, através do personagem do esquilo Surly. Como diversos técnicos desta produção são coreanos, a história ainda consegue introduzir o elemento coreano de maior penetração no mercado americano recente: o cantor Psy. Espere então mais de uma versão de Gangnam Style na trilha sonora, com direito a um clipe animado do músico dançando com os personagens.