Encontro fraternal
por Lucas SalgadoSeis anos após interpretar um primeiro ministro no excelente O Divo, de Paolo Sorrentino, Toni Servillo volta a dar vida a um político italiano em Viva a Liberdade, de Roberto Andò. O grande ator italiano, visto recentemente em A Bela que Dorme e A Grande Beleza, vive um senador que atua também como secretário do partido de oposição. Chamado Enrico Oliveri, ele sofre com críticas da população e do próprio partido, com muita gente descontente com a forma como conduz seu trabalho.
Sofrendo muito com as críticas e com problemas de depressão, o senador decide fugir por um tempo, se exilando na França sem falar para ninguém. Desesperados, sua esposa e seu assessor decidem então chamar o irmão gêmeo do político, Giovanni Ernani, para se passar por ele.
O problema é que tal irmão acaba de sair de uma instituição após anos de internação, não podendo ser considerado a pessoa mais sã do universo, embora o passado como escritor e professor lhe dê uma bagagem intelectual importante. Ainda assim, ele topa assumir a função de irmão e, com o tempo, vai se mostrando cada vez mais competente na mesma.
O filme vem sendo vendido como uma comédia, mas tem como principal mérito justamente a forma como mescla momentos doces e amargos. Sim, é muito divertido ver um "quase louco" fazendo sucesso na política, numa ironia óbvia, mas elegante. Mas também é possível se emocionar com a trama e com os dramas do personagem principal.
Outro ponto positivo está na escolha do elenco. Servillo é um ator extraordinário e vê-lo duplamente em cena é um deleite para qualquer cinéfilo. Mas ele também não está sozinho, contando com as boas companhias de Valerio Mastandrea, Valeria Bruni Tedeschi, Michela Cescon e Anna Bonaiuto. O primeiro interpreta o principal assessor do senador, Andrea, e entrega uma atuação que emociona justamente por ser contida. Conhecida pelo trabalho em Um Castelo na Itália, Bruni Tedeschi vive Danielle, uma antiga paixão de Enrico que o abriga em sua casa em Paris.
Viva La Libertà (no original) começa com um irmão deprimido e outro excitado. Ao longo da trama, os dois personagens e suas personalidades vão quase se fundindo, graças a uma atuação marcante do protagonista. Isso fica claro no belo plano final.